Domingo, 15 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 23 de março de 2021
Apesar de uma leve queda de 1,52% na inflação de fevereiro, comparado a janeiro deste ano, o preço do arroz continua pesando no bolso do consumidor, já que o produto teve alta de quase 70% nos últimos 12 meses, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O IPCA é considerado a inflação oficial no País e é medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os principais motivos para o arroz ter ficado mais caro foram:
— Com o início da pandemia em março, mais gente ficou em casa, o que aumentou o consumo do arroz pela população.
— A alta do dólar fez os produtores quererem exportar mais. E, com isso a oferta do grão no Brasil diminuiu – vale lembrar que a área plantada vem sendo reduzida nos últimos anos devido à falta de estímulo para esta cultura.
— Do outro lado, os custos nas lavouras foram subindo, puxados principalmente pelos fertilizantes, e isso foi repassado também para o consumidor.
Em fevereiro, já com uma menos gente procurando pelo produto, com mais importações e o arroz estando em plena safra, os valores começam a cair lentamente nas prateleiras dos supermercados.
Analistas dizem que vai demorar para os consumidores voltarem a pagar o mesmo de antes a pandemia.
Por que os preços dispararam?
Para entender o motivo do arroz ter disparado entre 2020 e 2021 é preciso olhar para o início da pandemia, segundo o professor da Esalq/USP e pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, Lucilio Alves.
Ele explica que, quando as restrições de circulação tiveram início, em março, a população começou a consumir mais o arroz comparado a quando tinha que fazer as refeições na rua.
Além disso, muitos acabaram adquirindo os produtos em volume até maior do que o necessário, afirma o professor.
O crescimento do consumo não foi apenas interno. O Brasil também vendeu mais arroz para o exterior.
“O preço do Brasil em dólares ainda estava atrativo no mercado internacional. Então isso contribuiu para que tivesse um incentivo do importador vir buscar o produto no Brasil”, diz.
“A receita em reais e a taxa de câmbio atrativa também fizeram com que tivesse um interesse dos produtores brasileiros em vender para o mercado internacional”, completa.
Com o crescimento da exportação, a oferta no Brasil caiu.
Em paralelo a isso, havia um temor da população da safra não ser o suficiente para a demanda em 2020, o que também valorizou os preços, como conta o assessor técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Fábio Carneiro.
“A produção não acompanhou a demanda de 2020 de arroz no mercado global”, comentou.
“No ano passado teve uma preocupação muito grande se ia faltar arroz no Brasil e isso levou a uma intensificação do período de entressafra, que é geralmente no segundo semestre”, relata o assessor. “E essa preocupação acabou pressionando ainda mais o mercado”.
Apesar deste crescimento da procura, a última safra de grãos no Brasil foi recorde, atingindo 257,8 milhões de toneladas, sendo 11,2 milhões t apenas de arroz, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Ainda que os preços estejam salgados para o consumidor final, o produtor também vem pagando caro pelo cultivo do arroz. Alves conta que, em 11 anos, apenas nos últimos três o produtor teve receita suficiente para pagar todas as contas.