Domingo, 07 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de setembro de 2025
A intensa articulação de Tarcísio de Freitas em torno da anistia para os envolvidos no 8 de Janeiro é o movimento mais claro de suas ambições presidenciais. Contrariando sua imagem de gestor técnico, o governador de São Paulo foi a Brasília com um objetivo definido: pagar o pedágio exigido por Jair Bolsonaro para ser seu herdeiro em 2026. A tarefa é superar a desconfiança do ex-presidente e de sua família de que, uma vez eleito, não iria às últimas consequências na defesa de seu padrinho político. O caminho para uma candidatura, no entanto, é mais complicado. O sucesso da empreitada de Tarcísio não depende da aprovação imediata de uma anistia ampla, que inclua Bolsonaro. O alvo da ofensiva é outro: convencer o ex-presidente de que o governador, se eleito presidente, estará comprometido a “terminar o serviço”. A promessa, explicitada pelo próprio Tarcísio, é a de usar o poder da caneta presidencial para conceder um indulto e, mais importante, lutar para que ele seja validado pelo Supremo Tribunal Federal.
Os sinais de apoio de Bolsonaro a Tarcísio devem ser vistos com pragmatismo. Um deputado que esteve com o ex-presidente relata a sua intenção de apoiar o governador, contrariando a pressão do filho Eduardo. Mas isso pode ser um jogo duplo. Afinal, Bolsonaro precisa manter a chama da anistia acesa no Congresso e, para isso, necessita da influência de Tarcísio sobre partidos do Centrão, muitos dos quais preferem o governador a um herdeiro familiar. Ao acenar para Tarcísio, Bolsonaro o mantém engajado. Mas quem conhece o ex-presidente sabe de sua instabilidade.
Por isso, o jogo da sucessão envolve um terceiro ator decisivo: o STF. A decisão de Bolsonaro passará pela percepção sobre a disposição de o STF aceitar um perdão. Se os ministros sinalizarem que, sob um novo governo, poderiam validar um indulto, as chances de Tarcísio aumentam. Por outro lado, se o governador queimar pontes com a Corte em defesa da anistia, pode transmitir a Bolsonaro que não terá a coesão necessária para garantir sua liberdade, minando a própria candidatura.
Outra variável fundamental é a competitividade de Lula. Políticos experientes avaliam que a força de Tarcísio na disputa pela indicação é inversamente proporcional à fraqueza do atual governo. Se Lula se mostrar competitivo, Bolsonaro tende a não arriscar o capital dos filhos. Nesse cenário, o argumento de que Tarcísio, por dialogar melhor com o centro, seria mais viável, ganha peso. Contudo, se Lula parecer fragilizado, Bolsonaro pode se sentir confiante de que qualquer nome que ele indique chegará ao segundo turno, abrindo espaço para uma solução caseira – mesmo que Tarcísio tenha defendido a anistia. Finalmente, há os arranjos partidários. Líderes do Centrão já cobram uma definição de Tarcísio até janeiro, para que haja tempo de organizar sua sucessão em São Paulo e montar a chapa presidencial.
O esforço pela anistia, portanto, é a condição necessária para Tarcísio se fortalecer na luta pela candidatura em 2026, mas não é suficiente ainda para sacramentar seu nome. Por mais que, hoje, a balança pareça pesar a favor do governador, a decisão final será um complexo balanço entre a confiança pessoal de Bolsonaro, a viabilidade jurídica, o cenário eleitoral e as costuras de bastidores. (Silvio Cascione – diretor da consultoria Eurasia Group)