Sexta-feira, 01 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 31 de julho de 2025
O tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil atinge em cheio o agronegócio brasileiro, segundo executivos e dirigentes do setor. Poucos produtos agrícolas entraram na lista de exceções da tarifa de 50% que valerá para as cargas comercializadas nos EUA a partir de 6 de agosto. Apenas suco de laranja, castanhas e celulose não terão a taxação. Já café, pescados e carne bovina serão afetados.
Diante da pressão, exportadores já pediram ao governo apoio através de linhas de financiamento. O vice-presidente Geraldo Alckmin adiantou na quarta-feira, em conversa com o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, que o governo está estudando a criação de uma linha de crédito para exportadores.
Em 2024, os EUA foram o destino de US$ 12 bilhões em produtos agropecuários brasileiros, ou 7,3% de todas as exportações do setor, e ocuparam o terceiro lugar entre os maiores parceiros comerciais do agronegócio brasileiro, atrás de China e União Europeia (UE). Os principais produtos do agro exportados aos EUA foram produtos florestais (US$ 3,7 bilhões), café (US$ 2,1 bilhões), carnes (US$ 1,4 bilhão) e sucos (US$ 1,2 bilhão).
“O agronegócio, com exceção do suco de laranja e da castanha, foi atingido no coração. É imperativo o socorro do governo com linhas de créditos subsidiadas e medidas que mitiguem esse momento”, disse Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca).
O setor de pescados, que exportou US$ 224,3 milhões aos EUA no ano passado, foi um dos primeiros a pedir financiamento ao governo, de R$ 900 milhões, para capital de giro das empresas. A Abipesca prevê um “colapso” do setor se não houver ajuda do Executivo.
Segundo a associação, as empresas de pescados não têm “alternativas viáveis de mercado”, já que a cadeia é fortemente dependente dos Estados Unidos. “Essa realidade agrava-se no caso de Estados como o Ceará, onde empresas têm sua operação diretamente atrelada a esse fluxo”, disse, em nota.
“A interrupção dessas exportações poderá desencadear uma onda de pedidos de recuperação judicial, uma vez que as empresas não terão capacidade de honrar seus compromissos financeiros”, afirmou a entidade, que vê mais de 1 milhão de pescadores afetados.
No setor de carne bovina, a confirmação do tarifaço foi recebida com preocupação. “Os EUA são nosso segundo maior mercado e essa taxa inviabiliza a exportação de carne bovina aos Estados Unidos”, disse Perosa a jornalistas. “Mantemos a expectativa de impacto de US$ 1 bilhão. Nossa expectativa era exportar 400 mil toneladas (neste ano) e nós não vamos conseguir com essa tarifa.”
Presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Paulo Mustefaga corroborou o sentimento negativo. “É extremamente preocupante para o setor produtivo e toda a sociedade brasileira esta escalada de ações que prejudicam toda a economia brasileira”, afirmou. A associação estimou perdas de vendas de carne de US$ 1,3 bilhão em 2025 e de até US$ 3 bilhões no ano que vem.
Trump ignorou argumentos apresentados pelo conselho de importadores do país (Mica, na sigla em inglês), de que a proteína do Brasil é complementar à dos produtores locais e é um componente essencial para a fabricação de hambúrgueres.
Já a não inclusão do café na lista de exceções pegou analistas do setor de surpresa, depois que o secretário americano do Comércio, Howard Lutnick, citou o grão como um produto que os EUA poderia isentar de tarifas, já que o país não o produz.
“Vivemos um momento de ansiedade, porque um terço do café americano é o Brasil que fornece. A pergunta que fica é qual origem vai colocar café nos EUA e se o americano vai ficar sem o café brasileiro”, disse Marcus Magalhães, fundador da consultoria MM Café.
Para Marcos Matos, diretor do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a fala de Lutnick é um motivo para acelerar as renegociações, mesmo que retirar a tarifa não seja automático a todos os países e dependa das relações bilaterais. “A entrada da taxa, que já era um cenário mais provável, não impede a nossa negociação. Em exemplos anteriores, vários países foram taxados e negociaram outros formatos depois.”
A sobretaxa também terá um “impacto grande para o (setor sucroalcooleiro do) Nordeste”, afirmou Renato Cunha, presidente da Associação dos Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio) e do Sindaçúcar/PE.
As usinas da região usufruíam de uma cota de importação dos EUA isenta de tarifa, o que as permitia vender açúcar por um preço mais alto que no mercado global. O volume, porém, era pequeno, de 180 mil toneladas ao ano, frente a uma produção de 3,6 milhões de toneladas por ano na região.
Com as tarifas, “podemos performar, mas passa a ser uma exportação menos quantitativa, dentro de uma quantidade que já não é expressiva”, avaliou Cunha.
Os setores esperam que seus produtos ainda sejam inseridos na lista de exceções. Os fabricantes de açúcar orgânico estão entre eles. Segundo Leontino Balbo, dono da Native, nenhum produtor de açúcar orgânico substituiria o Brasil imediatamente por falta de certificação junto ao Departamento de Agricultura do país (USDA).
Uma dos poucos setores isentados da sobretaxa, a indústria de suco de laranja recebeu a notícia com alívio. Segundo Ibiapaba Netto, presidente da CitrusBR, que reúne as maiores empresas do ramo, as indústrias americanas que recebem o suco brasileiro para engarrafar demostraram ao governo americano o impacto das tarifas nos empregos e na economia, e explicaram a necessidade de isenção. As informações são do jornal Valor Econômico.