Domingo, 13 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 16 de junho de 2020
Não é novidade que o câmbio é instável e é a variável mais difícil de se prever, já que depende de inúmeros fatores domésticos e internacionais. Mesmo assim, muita gente aproveitou a disparada do dólar nos últimos meses para trazer dinheiro ao Brasil. Segundo dados do Banco Central, o volume de dinheiro transferido de outros países para cá foi praticamente o dobro do que saiu do país nos quatro primeiros meses do ano, considerando as transações realizadas entre pessoas físicas.
De janeiro a abril de 2020, as transferências de dinheiro do exterior para o Brasil chegaram a US$ 1,06 bilhão, uma média de US$ 264 milhões por mês, 9% acima de 2019. Já é o maior ritmo mensal desde 2010 e se continuar nessa toada, o volume de dinheiro enviado ao Brasil por estrangeiros e brasileiros pode ultrapassar US$ 3 bilhões em 2020 e bater recorde. Entre 2010 a 2019, a média de entrada por mês foi de US$ 201,36 milhões e não houve nenhum ano com receita de US$ 3 bilhões ou mais.
Na outra ponta, as pessoas físicas diminuíram bem o ritmo de transferência para fora do Brasil. De janeiro a abril deste ano, saíram do país cerca de US$ 518 milhões ou US$ 130 milhões na média mensal, o que representa uma queda de 25% em relação a 2019 e o menor ritmo mensal desde 2016.
“A gente atribui isso a duas coisas: o fechamento do comércio e isolamento social, que levou muita gente a segurar as remessas ao exterior porque não sabiam se continuariam a ter trabalho e ao movimento do câmbio. O dólar a R$ 6 foi um grande incentivo para que as pessoas que trabalham lá fora mandem recursos para familiares no Brasil”, explica Ricardo Amaral, vice-presidente e diretor bancário da Western Union no Brasil.
De janeiro a abril, o dólar se valorizou 35,5% em comparação ao real e chegou a R$ 5,44. Em maio a moeda americana atingiu seu pico, próxima a R$ 6 (o pico foi R$ 5,95), com a piora do quadro do coronavírus no Brasil e a crescente instabilidade política. Como é típico do câmbio, porém, o cenário se reverteu de meados de maio para cá. Em 10 de junho a divisa fechou cotada a R$ 4,94.
Em comparação com o fim de 2019, ainda há ganhos – no ano, o dólar acumula valorização de 23% ante real, mas se deu bem mesmo quem conseguiu aproveitar a fase ascendente da curva. E, pelo jeito, foi bastante gente. O Valor Investe ouviu cinco das principais empresas que atuam no segmento de transferência de recursos entre países – Remessa Online, Westen Union, Transferwise, BankRio e Travelex Confidence – e todas viram um aumento importante de dinheiro entrando no Brasil nos últimos meses.
“Os movimentos de envio de dinheiro são reflexo direto da variação cambial. Os recordes de alta do dólar refletiram nesse aumento do fluxo de envio de dinheiro para o Brasil. Quando vemos uma baixa no dólar, o inverso acontece – aumentam os volumes do Brasil para o exterior. No entanto, mesmo desacelerando em maio e junho, o dólar segue no patamar alto, próximo a R$ 5, ainda vantajoso para quem transfere do exterior”, comenta Heloisa Sirotá, que lidera a operação da TransferWise no país.
Prova da onda de repatriação de dinheiro é que, em março deste ano, a TransferWise registrou o maior pico mensal de volume transferido para o Brasil desde o início das operações da empresa no país (abril de 2016). O volume de dinheiro transferido para o Brasil foi 50% maior do que o último pico registrado, em agosto de 2019.
A empresa tem como principais clientes pessoas físicas que vão estudar no exterior e recebem ajuda dos pais ou brasileiros que vão morar fora, como muitos aposentados na Europa. Há ainda aqueles que trabalham – Estados Unidos e Japão, por exemplo – e enviam dinheiro para a família no Brasil. A idade média do cliente da Transferwise é de 39 anos.
Considerando março e abril, o valor médio de dinheiro que chegou ao Brasil, em dólares, pela plataforma da Transferwise foi 12% maior do que a média de 2019. Parece pouco, mas, por conta da alta do dólar, quando esse volume é convertido para reais, nota-se um crescimento de 34%, o que representa um aumento significativo no valor recebido aqui no país. O Brasil está entre os cinco principais mercados para a empresa, que, no mundo, movimenta US$ 5 bilhões por mês.
A BankRio Exchange, que atende pessoas físicas e jurídicas de pequeno e médio portes, viu nos últimos três meses – março a maio – o volume de entrada de recursos no Brasil responder por 75% das operações de câmbio. Na segunda quinzena de março, início da quarentena, ele chegou a representar 90% do volume de operações feitas pelos clientes da empresa. As informações são do jornal Valor Econômico.