Quinta-feira, 21 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 20 de agosto de 2025
O silêncio da oposição foi a maior arma para derrotar o Palácio do Planalto na abertura dos trabalhos da CPMI do INSS nessa quarta-feira (20). Tanto oposicionistas quanto governistas chegaram a uma mesma conclusão: foi a vitória mais expressiva neste ano dos bolsonaristas, que agiram na calada da noite.
Após a derrota acachapante, a base passou a pedir a cabeça do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), que chegou atrasado na reunião, mas ele deve ser mantido no cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com o dedo em riste, o senador Omar Aziz (PSD-AM) apontou a culpa de Randolfe, segundo relatos.
Houve uma clara mudança no modus operandi dos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Depois de virem que dar publicidade à estratégia não funcionou no caso da anistia do 8 de Janeiro e que ainda estavam com a imagem arranhada pela ocupação das Mesas do Congresso, sabiam que, se fizessem barulho, correriam o risco de não unir o Centrão na articulação. No fim das contas, conseguiram eleger os oposicionista Carlos Viana (Podemos-MG) e Alfredo Gaspar (União-AL), respectivamente, como presidente e relator da CPMI.
A oposição passou toda a terça-feira (19), e virou a madrugada contando votos e montando a estratégia de chegarem todos juntos na reunião da CPMI e surpreenderem a base governista, que estava desmobilizada por acreditar que a comissão estava sob controle. Randolfe chegou ao local mais de meia hora depois de os trabalhos terem sido abertos, a tempo de votar, mas sem chances de mudar o cenário.
O movimento foi articulado na Câmara pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), e no Senado por Rogério Marinho (PL-RN). O silêncio era crucial porque, se a articulação vazasse, o governo se mobilizaria para demover o Centrão de apoiar os bolsonaristas. Carlos Viana chegou a comentar que nunca colocou o próprio nome na mesa porque, se falasse sobre o assunto em público, o Planalto daria um jeito de derrubá-lo do posto.
Quando os outros governistas perceberam a possibilidade de derrota na CPMI, começaram a reclamar da ausência de Randolfe. A indignação foi tamanha que lideranças aliadas ao Planalto avaliaram que Randolfe não teria mais condições de liderar o grupo e estão dispostas a deixar a queixa clara para Lula, já que agora terão de montar uma operação de guerra na comissão, antes desnecessária. “Tem uma circunstância regimental. O primeiros suplentes são do PL. Foram esses três primeiros suplentes da Câmara que acenderam e fizeram a diferença no voto”, disse o líder ao se explicar.
Apesar do desgaste, a leitura no momento é de que Randolfe não deverá perder o cargo. Neste mandato, Lula tem mantido aliados em postos-chave principalmente quando há pressão para demiti-los. Foi o que ocorreu com o ex-ministro da Secretaria de Relações Institucionais Alexandre Padilha. O então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pediu a cabeça do petista, mas ele só saiu do cargo depois que Lira também havia saída do comando da Casa.
Mas a situação para Randolfe não está das melhores. O líder foi convocado às pressas para uma reunião de emergência na SRI, com a ministra Gleisi Hoffmann. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), também participou. Gleisi queria explicações sobre o que aconteceu, já que até então Randolfe estava confiante de que o governo teria o controle da comissão. Motta também foi chamado para uma conversa com Lula no Palácio da Alvorada.
O senador Omar Aziz (PSD-AM), que apontou o dedo para a culpa de Randolfe, havia sido escolhido pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para presidir a CPMI. Aliado do governo Lula, ele foi da tropa de choque do Planalto na CPMI do 8 de Janeiro, que inicialmente foi defendida pela oposição, mas depois acabou dominada por governistas.
Hugo Motta, por sua vez, havia escolhido o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), seu correligionário, para a relatoria da comissão que investigará as fraudes do INSS. A expectativa era de que ele também atuasse alinhado ao Planalto. (Com informações de O Estado de S. Paulo)