Quarta-feira, 11 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 1 de novembro de 2015
Uma nova e polêmica diretriz da ACS (Associação Americana de Câncer) sugere que as mulheres comecem a fazer mamografia aos 45 anos, adiando em cinco anos o início do exame. Até os 54, a mamografia deve ser anual e, depois dessa idade, feita a cada dois anos.
Exames clínicos de mama, aqueles em que os médicos apalpam a área para detectar nódulos, estão desaconselhados. A mudança, recomendada por uma das entidades mais conservadoras no que se refere ao rastreamento de câncer de mama, não se aplica às mulheres com alto risco para a doença.
A alegação da ACS é de que o alto índice de resultados falsos positivos em mulheres com menos de 45 anos causa angústia desnecessária, e que a eficácia das mamografias é baixa para essa faixa etária.
Por aqui, a idade de início do exame também está em análise. Uma audiência pública reuniu parlamentares, entidades, membros do Ministério da Saúde e pacientes para discutir a idade do rastreamento feito pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer), dos 50 aos 69 anos. O presidente da SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia), Ruffo de Freitas Jr., acredita, porém, que o exame deve começar mais cedo.
“A idade certa para começar a fazer mamografia no Brasil é 40 anos, porque entre 40 e 50 anos a prevalência do câncer de mama é de 25%, enquanto que em outros países, como EUA, Canadá e Suécia, fica entre 10% e 15%”, explica.
A recomendação, segundo Ruffo, é da SBM, do Colégio Brasileiro de Radiologia e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Com base em um estudo canadense, ele rebate o argumento usado pela ACS da baixa eficácia do exame: em três de sete províncias que participaram da pesquisa, a redução de mortes por câncer de mama foi de 44% em mulheres de 40 a 49 anos submetidas à mamografia.
“Como qualquer exame, a mamografia também dá falsos positivos. Por outro lado, não sabemos qual tumor é letal e qual não é. O melhor, então, é fazer o exame”, pontua.
Com essa mudança nos EUA, existem hoje por lá três diferentes idades – 40, 45 e 50 – recomendadas por três entidades, o que gera confusão entre as mulheres e seus médicos. Um grupo ligado ao governo defende 50 anos como idade adequada, já uma associação de obstetras e ginecologistas crava nos 40.
“Forte recomendação”.
A ACS ressalta que as mulheres com idades entre 40 e 44 que quiserem começar a fazer mamografias anuais poderão fazê-lo, embora esta não seja uma “forte recomendação”. Outra mudança é que, em vez de parar de realizar o exame aos 75 anos, a mulher não terá mais uma idade limite para abandonar o exame. Caso ela esteja bem de saúde, com expectativa de vida estimada em dez anos ou mais, é recomendado que ela continue a fazer a mamografia a cada dois anos.
A nova política resultou de uma revisão exaustiva de dados de pesquisas que a ACS realiza regularmente para atualizar suas diretrizes de triagem. A última revisão foi em 2003.
Segundo Gilberto Amorim, titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, a mudança de paradigma dentro da entidade americana, que é um dos grandes centros de referência para o tema no mundo, pode influenciar a discussão no Brasil.
“O nosso Ministério da Saúde defende que a mamografia seja feita apenas entre os 50 e os 69 anos. Será que ele vai continuar a bater nessa tecla, mesmo com os atuais debates?”, questiona Amorim.