Terça-feira, 10 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 31 de outubro de 2015
Cientistas da Trinity College Dublin, na Irlanda, lançaram luz sobre um mecanismo fundamental relacionado ao desenvolvimento do mal de Alzheimer, que poderia levar a novas formas de terapia para aqueles que vivem com essa condição. A doença é caracterizada, em parte, pela acumulação de uma pequena proteína – chamada de beta-amiloide – no cérebro dos pacientes. Essa substância colabora para o acúmulo de placas e depois no processo da doença em si.
Embora o modo pelo qual essa proteína é acumulada no cérebro permaneça um tanto obscuro, os cientistas irlandeses consideram evidente que ela tenha de ser removida a partir do cérebro via corrente sanguínea. Caso esse processo de remoção seja bem-sucedido, segundo os estudiosos, a qualidade de vida do paciente de Alzheimer melhorará. O estudo foi publicado na revista científica Science Advances.
Ao contrário dos vasos sanguíneos em qualquer outra parte do corpo, os do cérebro têm propriedades que regulam estritamente o que entra e sai no delicado tecido, o que é conhecido como BBB (barreira sangue-cérebro, do inglês “blood-brain barrier”). As funções dessa barreira são regular a troca de energia e de metabólito – produto gerado pelo metabolismo de determinada molécula – entre o tecido cerebral e a circulação sanguínea.
“Temos demonstrado que componentes distintos desses vasos sanguíneos, que nós chamamos de junções apertadas, são alterados durante a doença de Alzheimer. Nós acreditamos que essa alteração pode ser um mecanismo para permitir o apuramento das beta-amiloides tóxicas no cérebro em pessoas que vivem com a doença de Alzheimer”, disse o pesquisador James Keaney, que liderou o estudo.
A importância da barreira sangue-cérebro.
A condição é classicamente associada à perda de memória. No entanto, outros sintomas e sinais de alerta incluem dificuldade de executar tarefas familiares, problemas com a linguagem – como esquecimento de frases ou palavras – e alterações no humor, no comportamento e na personalidade.
“Nossos resultados destacam a importância de compreender as doenças em nível molecular. O conceito de apuramento periódico das proteínas beta-amiloide ao longo de toda a barreira sangue-cérebro pode ter um enorme potencial para pacientes de Alzheimer no futuro. Os próximos passos são avaliar como isso pode ser alcançado”, afirmou o professor de investigação em genética no Trinity, Matthew Campbell.
Trabalhando com o Banco de Cérebros de Dublin, os pesquisadores analisaram tecidos do cérebro de indivíduos que foram afetados pela doença de Alzheimer durante a sua vida e, em seguida, os resultados foram comparados com os observados em modelos de laboratório.
“Tendo em vista os recentes avanços em ensaios clínicos de anticorpos anti-beta amiloide, nós esperamos que nossos resultados possam levar a melhores formas de terapia para esta condição devastadora”, aspira Campbell.
Alzheimer pelo mundo.
Alzheimer é a forma mais comum de demência no mundo. Hoje, são 46,8 milhões de pessoas vivendo com o problema, das quais 1,2 milhão estão no Brasil. Apenas na pequena Irlanda, país onde o estudo foi realizado, o mal afeta cerca de 40 mil pessoas, sendo a quarta principal causa de morte em indivíduos com idade superior a 65 anos. E, entre as primeiras dez causas de morte, esta é a única que não pode ser evitada, curada ou até mesmo ter seu avanço desacelerado.
A estimativa para os próximos anos é alarmante: em 2030, devem ser 74,7 milhões de pessoas com demência no mundo, e, em 2050, esse número passará para 131,5 milhões. Os dados são do Relatório Mundial de Alzheimer.