Sexta-feira, 22 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 21 de agosto de 2025
Silas Malafaia, um dos nomes mais vocais da direita bolsonarista, já esteve mais para “Lula lá” do que para Jair Bolsonaro cá. Aconteceu primeiro na eleição presidencial de 1989, quando o televangelista em ascensão, um jovem pastor de bigodinho, participou do comitê evangélico do trabalhista Leonel Brizola.
Esse totem da esquerda atolou no primeiro turno, e Malafaia rumou contra a maré pastoral ao endossar a candidatura de Lula. O petista, àquela altura, já se via às voltas com a fake news de que fecharia igrejas evangélicas — na época, diziam que o faria para agradar amigos católicos ligados à Teologia da Libertação.
Enquanto o já poderoso bispo Edir Macedo incentivava fiéis a “collorir” contra “o diabo na corda bamba”, nada sutil alusão ao embate entre Fernando Collor e Lula, Malafaia se aliou à esquerda. Repetiu a dose em 2002, quando chegou a aparecer na propaganda eleitoral do petista contra José Serra (PSDB).
Sua primeira escolha era o presbiteriano Anthony Garotinho, que não passou para o segundo turno. Ex-petista que concorria pelo PSB, ele se dizia o mais à esquerda entre todos os candidatos daquele ano.
As redes sociais ressuscitaram recentemente um vídeo em que o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo desaprova a participação da igreja na política, até porque Jesus, ele argumentava mais de 20 anos atrás, “não tem título de eleitor aqui no Brasil”.
Malafaia entrou agora na reta da Polícia Federal. Teve seu celular apreendido nesta quarta-feira (20), no aeroporto do Galeão. Dias antes, foi incluído no inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal), que investiga o ex-presidente Bolsonaro (PL) e seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal.
Além de entregar seu celular para as autoridades, o pastor recebeu ordens de não deixar o país nem manter contato com outros investigados. A relatoria está com o ministro Alexandre de Moraes, a quem Malafaia se referiu incontáveis vezes como “ditador da toga”.
Ele rompeu com o PT antes de Lula encerrar seu segundo mandato. Conservador sempre foi, e até hoje sustenta que só apoiou Lula no primeiro pleito pós-ditadura militar por acreditar que o petista ajudaria os pobres, maioria nas igrejas evangélicas.
Diz-se arrependido de não ter dado ouvidos ao pai, oficial da Marinha e também pastor. “Ele falava assim pra mim: ‘Você está enganado, eles não se desvinculam de suas ideologias’.”.
A partir daí, fez algumas dobradinhas com um deputado do baixo clero conhecido por falas radicalizadas. Temas como um projeto de lei que criminalizava a homofobia uniram Mafalaia e Bolsonaro. Foi ele quem casou o parlamentar com Michelle Bolsonaro, que por sinal já foi fiel de sua igreja.
Gosta de contar que antes da cerimônia, em 2013, Bolsonaro teria confidenciado a ele que tentaria a Presidência da República, o que achou sem pé nem cabeça no dia.
Os acenos conservadores se intensificaram ao longo dos anos. Em 2010, Malafaia estampou centenas de outdoors no Rio onde se lia: “Em favor da família e da preservação da espécie humana”.
No mesmo ano, passou 15 minutos ao telefone com a candidata Dilma Rousseff (PT) explicando que não a apoiaria por acreditar que ela era pró-aborto, conforme o próprio relatou à Folha dois anos depois.
Malafaia foi um dos primeiros pastores graúdos a embarcar na aventura bolsonarista em 2018, quando muitos colegas apostavam suas fichas eleitorais em Geraldo Alckmin, ainda associado à direita e filiado ao PSDB.
Foi conselheiro do presidente Bolsonaro — seus pares de fé diziam que tinha catraca livre no Palácio do Planalto. Depois se firmaria como um dos poucos líderes de projeção nacional que não diminuiu os decibéis a favor do bolsonarismo, derrotado nas urnas e já na reta da Justiça por suposta tentativa de golpe e escândalos como o das joias sauditas.
Malafaia partiu para o tudo ou nada, dizem nos bastidores líderes evangélicos que vestiram a camisa bolsonarista em 2018 e 2022, mas a veem hoje como uma carapuça. Ainda gostam de Jair, porém calculam se valeria a pena adotar o tom bélico de Malafaia em defesa dele. Não querem problemas com Moraes.
Malafaia diz que tipos assim se acovardam. Ele, não. Bancou trios elétricos para Bolsonaro discursar em eventos como o 7 de Setembro e gravou dezenas de vídeos dobrando a aposta contra Moraes.
Num dos últimos, afirmou que o ministro do STF mexeu “com o cara errado” e que não o teme. Já declarou outras vezes que não tem medo de ser preso. Uma expressão que corre no WhatsApp: sua insistência em peitar Moraes, por fim, o levará a afundar com Bolsonaro num “abraço de afogados”. (Com informações da Folha de S.Paulo)