Terça-feira, 09 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de maio de 2021
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello afirmou nesta quinta-feira (20) na CPI da Covid que o presidente Jair Bolsonaro fala de improviso e que algumas declarações dele precisam ser corrigidas posteriormente. Ele fez a afirmação ao comentar o que o presidente disse em outubro do ano passado desautorizando o então titular da pasta de um acerto para fechar acordo para compra da vacina chinesa Coronavac.
Pazuello reafirmou à CPI que Bolsonaro não interferiu na gestão da pandemia enquanto ele esteve à frente da pasta. Segundo Pazuello, manifestações públicas do presidente sobre medidas sanitárias ou compra de vacinas eram feitas “de improviso” e não devem ser interpretadas como ordens.
“Nós sabemos como é o nosso presidente. Ele fala de improviso, de pronto o que vem na cabeça, essa é a verdade, não podemos esconder o sol com a peneira, esse é o presidente da República que foi eleito, ele fala de pronto como ele pensa e algumas coisas precisam ser corrigidas depois. Algumas coisas precisam ser reconversadas”, disse Pazuello.
No primeiro dia da sua audiência, Pazuello havia sido questionado sobre um pronunciamento de Bolsonaro contra a aquisição da vacina chinesa Coronavac. O ex-ministro voltou ao tema nesta quinta e disse que o fato se tratou de uma “posição de internet” do presidente, mas não houve pressão sobre o ministério.
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) discordou dessa avaliação. Para ele, o presidente tem ingerência sobre seus ministros mesmo quando se manifesta informalmente. Contarato lembrou que, depois da crítica de Bolsonaro à vacina, o Ministério da Saúde cancelou a intenção de compra que havia anunciado.
“O senhor [Pazuello] fala: ‘Vou adquirir 46 milhões de doses do Instituto Butantan’. No outro dia, numa live, o presidente fala: ‘Não vai adquirir’. O senhor fala: ‘Manda quem pode, obedece quem tem juízo’. O presidente tem o poder de ordenar os ministros de Estado. Então, ele fez isso”, argumentou Contarato.
A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) disse que Bolsonaro “desautorizou” Pazuello no episódio da Coronavac, e ressaltou que essa tem sido uma prática comum do presidente. Para ela, as ações públicas de Bolsonaro contradizem os esforços do Ministério da Saúde.
“O presidente se comunica com a população pelas redes sociais. Ele tem uma influência grande. O senhor não insistiu em grandes campanhas de prevenção por quê? Como o senhor ia fazer isso? O senhor fazia campanha aqui, e o presidente da República ia para lá aglomerar, incentivar a aglomeração e a não usar máscara”, disse Zenaide.
A senadora Leila Barros (PSB-DF) quis saber se o presidente pode ter influenciado o uso e a distribuição de cloroquina, um dos medicamentos usados no “tratamento precoce” contra a covid-19. Para ela, o próprio Ministério da Saúde evitou ter diretrizes claras contra a prática.
“Por meio de nota técnica do ministério sob a sua condução, [o senhor] tratou do assunto, se não recomendando diretamente, reforçando a autonomia do médico em receitar esses medicamentos. O senhor realmente acredita que a recomendação frequente e ostensiva do uso do remédio pelo presidente não teve qualquer impacto?”, questionou.
Ao responder à senadora, Pazuello voltou a dizer que a atuação do ministério na sua gestão era autônoma, mas admitiu que, no caso dos medicamentos, áreas da pasta podem ter agido sem a sua autorização.
“Eu não fiz e não faria e não deixei fazer. Se aconteceu dentro de um outro nível do ministério que não estava sob a minha mão naquele momento, isso foi sem a minha autorização. Agora, eu não concordo com isso. Eu não comprei nenhum grama de hidroxicloroquina.” As informações são da Agência Senado.