Quarta-feira, 07 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 9 de março de 2021
Aos 18 anos e preparando-se para ingressar no serviço militar obrigatório israelense, a paulistana Juliana Ajbeszyc tomou na semana passada a segunda dose da vacina contra a covid-19. Juliana e sua família, de origem judaica, se mudaram há quase meia década para Israel, país com a maior taxa de vacinação do mundo.
“Foi um processo muito simples. Fiz o agendamento pelo aplicativo e não demorou nada”, diz ela, que mora em Ra’anana, cidade a cerca de 20 quilômetros de Tel Aviv e considerada “a capital” dos brasileiros que vivem em Israel — são mais de 300 famílias na localidade.
“Toda a minha família já se vacinou com exceção do meu irmão gêmeo, porque ele pegou coronavírus e só vai poder se vacinar daqui a dois meses”, conta Juliana.
Ela agora se prepara para passar os próximos dois anos nas Forças Armadas — em Israel, o serviço militar é obrigatório para homens e mulheres.
Segundo dados da plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford (Reino Unido), Israel tem atualmente a maior taxa de vacinação do mundo, com 98,85 doses administradas por cada 100 habitantes. A população do país é de cerca de 9 milhões de pessoas. Praticamente todos os idosos já tomaram pelo menos uma dose da vacina.
A título de comparação, a taxa brasileira é de 4,58 doses administradas por cada 100 habitantes.
Um estudo recente feito por pesquisadores israelenses com base em estatísticas oficiais demonstrou a eficácia da campanha de imunização no combate à pandemia de covid-19. Segundo os cientistas, a vacinação em massa evitou que pessoas ficassem gravemente doentes.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, se envolveu pessoalmente na campanha de vacinação.
Em um vídeo de marketing do governo que viralizou nas redes sociais, Netanyahu aparece com um megafone convocando a população a se vacinar contra o coronavírus. Na sequência, aparecem personagens negando a vacinação — como um palhaço e um homem vestido com teclados de computador, em alusão à fake news.
O premiê, então, começa a desmentir as notícias falsas sobre a vacinação e dizer que a vacina é segura e foi pesquisada pelos maiores especialistas do mundo.
No fim, e após algumas piadas de Netanyahu, os personagens do vídeo decidem se vacinar.
“Passaporte verde”
Uma semana depois de tomar a segunda dose, os vacinados em Israel recebem o chamado “passaporte verde”, um documento eletrônico que permite acesso a restaurantes, academias de ginástica, teatros, cinemas e outros estabelecimentos — recentemente, o país deu início a uma reabertura gradual após o terceiro confinamento.
“A ideia é que todo mundo que já tomou as duas doses ou teve o coronavírus vai poder circular em vários espaços que estavam fechados”, diz a gaúcha Aline Szewkies, guia de turismo e youtuber do canal “Israel com a Aline”, com 280 mil seguidores.
“A vacinação aqui não é obrigatória, ou seja, isso é um incentivo para as pessoas se vacinarem”, acrescenta.
Aline tem 31 anos dos quais 11 em Israel. Ela conta que foi a primeira da família a ser vacinada.
“Tenho uma irmã que mora na Suíça, tios e primos nos Estados Unidos, mas a maior parte da família no Brasil — e fui a primeira a ser vacinada”, diz.
Assim como Juliana, ela elogia a facilidade do processo de vacinação.
“Fui vacinada num estádio de basquete perto da minha casa. Você chega lá, responde a algumas perguntas básicas, toma a vacina e depois aguarda numa sala de espera por 15 minutos”, conta.
Ela destaca que, diferentemente do Brasil, Israel implementou lockdowns nacionais rígidos.
“Era comum ver muitos policiais nas ruas verificando aonde as pessoas estavam indo e distribuindo multas”, diz.
“Desde que vim morar aqui, foi a primeira vez que não pude entrar na Cidade Velha de Jerusalém, onde estão os locais sagrados para cristãos, judeus e muçulmanos”, acrescenta.
Aline diz agora estar esperançosa com a reabertura do país para que possa retomar em breve suas atividades.
“Israel já fechou acordos com a Grécia e com o Chipre. O turismo foi um dos setores mais afetados, assim como o comércio”, explica.
Preocupação
Desde maio de 2018 vivendo em Israel com a mulher e os filhos, o carioca Marcos Homsani, de 38 anos, também já foi vacinado. Ele diz que muitos parentes no Brasil se sentem “injustiçados” por não terem acesso às vacinas.
“Me impressionou muito a rapidez com que o processo de vacinação se desenrolou aqui. Somos um país acostumado a emergências nacionais, inclusive pela nossa situação geopolítica”, diz.
Para a autônoma Leila Perez, de 62 anos e há 43 vivendo em Israel, a situação de sua família no Brasil também a preocupa. Ela tomou as duas doses da vacina em janeiro.
“Tenho uma mãe de 82 anos e que está lutando contra um câncer bem invasivo e tenho um irmão com comorbidades. Eles estão confinados em casa. O Brasil é uma catástrofe”.