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Por Redação O Sul | 7 de março de 2020
As negociações entre a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e a Rússia sobre um possível corte de produção de petróleo por conta do coronavírus foram abandonadas sem acordo na sexta-feira (6), levando os preços do petróleo cru a uma queda de mais de 9%, para seu preço mais baixo em três anos.
A Rússia, que desde 2016 era aliada da Arábia Saudita e da Opep, a fim de ajudar a firmar o mercado de petróleo, rejeitou apelos por um corte de quase 4% na produção mundial de petróleo cru, o que exigiria novas reduções em sua produção, já que a queda acentuada na demanda por parte do setor de aviação e transportes resultou em baixa de mais de um terço nos preços do petróleo, de janeiro para cá, para perto de US$ 45 por barril.
O fracasso quanto a atingir acordo traz a perspectiva de que alguns dos maiores produtores mundiais de petróleo abram as torneiras, em um momento no qual a demanda mundial por petróleo está caindo, o que prejudica companhias petroleiras como a BP e a ExxonMobil e causa apertos orçamentários em economias dependentes do petróleo, do Texas a Brunei.
A aliança entre a Arábia Saudita e a Rússia, que ajudou a estender a influência russa no Oriente Médio, também será solapada.
“A Opep e a Rússia estão contemplando o abismo”, disse Helima Croft, da RBC Capital Markets. “Pode ser o fim da aliança entre sauditas e russos, mas não está claro o que Moscou teria a ganhar se decidir atear fogo à casa”.
O alvo da Rússia e de outros países produtores pode ser o setor americano de petróleo de xisto betuminoso, que há uma década vem crescendo com rapidez suficiente para absorver a maior parte da expansão na demanda mundial, o que deixa a Opep e outros grandes produtores com uma proporção menor do mercado.
Alexander Novak, o ministro da Energia da Rússia, disse que não haveria restrições de produção sobre os membros do chamado grupo Opep+, quando o acordo vigente entre seus integrantes expirar, no final do mês.
Mas nem os membros da Opep e nem a Rússia estão imunes a quedas de preços, e a última tentativa de pressionar rivais por meio de uma alta da produção, em 2014, terminou em fracasso, dois anos mais tarde, porque o custo da medida se provou pesado demais.
O ministro do petróleo saudita, príncipe Abdulaziz bin Salman, meio-irmão de Mohammed bin Salman, o governante do reino para todos os fins práticos, disse depois da reunião que seu país forçaria o mercado a “adivinhar” se vai ou não elevar sua produção.
Alguns analistas duvidam que o reino deseje que os preços caiam muito mais.
“O mercado agora está diante do espectro de uma produção ilimitada”, disse Ann-Louise Hittle, do Wood Mackenzie. “No entanto, não acreditamos que a Arábia Saudita pressione muito por uma alta em sua produção”.
Os operadores disseram que continuarão a acompanhar as exportações e a produção saudita atentamente, nas próximas semanas. Um delegado da Opep disse que a colaboração entre a Opep e a Rússia deve continuar, o que incluiria monitoração do impacto da difusão do coronavírus.
Mas o colapso das negociações vai inquietar um setor petroleiro que se acostumou a ver Arábia Saudita e Rússia trabalhando juntas a fim de manter os preços relativamente estáveis, nos últimos anos. Os preços médios por barril têm ficado entre os US$ 65 e US$ 70, nos dois últimos anos, com os dois países cortando sua produção a fim de sustentar o mercado, diante da produção crescente dos Estados Unidos.
As ações das maiores empresas petroleiras e de gás natural europeias de capital aberto caíram acentuadamente, com a BP e a Royal Dutch Shell registrando mais de 5% de queda no dia. As duas perderam mais de um quinto de sua capitalização de mercado, de janeiro para cá.
A Arábia Saudita na prática ofereceu à Rússia um acordo inflexível, sob o qual desejava que o grupo Opep+ retirasse 1,5 milhão de barris ao dia adicionais do mercado, em resposta ao coronavírus, além da redução de produção já vigente de 2,1 milhões de barris ao dia.
A Rússia deixou claro que, embora pudesse apoiar a prorrogação do acordo vigente, não desejava cortes maiores. No final, a incapacidade de chegar a qualquer acordo indica que os 2,1 milhões de barris diários em cortes que o acordo vigente estipula serão eliminados no final do mês, quando ele expira.
O setor petroleiro está se preparando para uma potencial queda de demanda em 2020, pela primeira vez desde a crise financeira, e já viu os preços caírem em um terço, de janeiro para cá, para US$ 46 por barril.