Quarta-feira, 02 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 11 de novembro de 2024
A vitória de Donald Trump na eleição presidencial norte-americana deve ajudar a mudar o panorama econômico e de investimentos daqui em diante. Afinal, as propostas do republicano vêm acompanhadas de uma expectativa dos juros voltarem a subir nos Estados Unidos, justo agora que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) iniciou o tão aguardado ciclo de cortes. Em um primeiro momento, é possível esperar um dólar mais alto e uma Bolsa brasileira (B3) sofrendo um pouco.
Mas, segundo especialistas, tudo dependerá do Congresso. Enquanto isso, será preciso apertar os cintos, porque os ativos devem passar por um período de alta volatilidade.
A volta de Trump à presidência dos Estados Unidos já vinha ganhando força nas casas de aposta (as chamadas “bets”) e até no próprio mercado financeiro. Com isso, os investidores já passaram a se posicionar, prevendo esse cenário em um movimento que ficou conhecido como “Trump trade”. Os ativos mais visados eram aqueles que se beneficiariam de um cenário com juros mais altos.
Isso porque, muitas das propostas de campanha de Donald Trump, caso colocadas em prática, podem ajudar a pressionar a inflação.
Uma das pautas, por exemplo, foi o endurecimento do discurso contra imigrantes. E, como bem se sabe, com menos imigrantes diminui-se a oferta de mão de obra, o que pode levar as empresas a contratarem trabalhadores locais por salários maiores. O resultado disso? Mais inflação. Além disso, Trump também vinha defendendo uma postura protecionista, com taxações pesadas contra importados, o que também ajudaria a trazer uma alta mais acelerada de preços. Por fim, o republicano também defende cortes de impostos ao setor produtivo local, o que tende a ampliar o rombo fiscal americano.
Como consequência de uma possível inflação mais alta nos EUA, os juros americanos tendem a ficar mais altos também. Afinal de contas, um dos instrumentos que um país tem para controlar a alta de preços é subir os juros, o que “encarece” empréstimos e financiamentos e, assim, trava o consumo. Esse cenário traria impactos significativos não só para o dólar, como também para a bolsa brasileira e para o próprio mercado americano.
Com os juros americanos elevados, os títulos de renda fixa de lá passam a ter mais atratividade, afinal de contas, suas rentabilidades estão relacionadas à taxa de juros.
No embalo do “Trump trade”, o mercado já havia colocado no preço dos títulos públicos norte-americanos (também chamados de “treasuries”) maiores probabilidades de um governo republicano. Mas, segundo especialistas, a vitória de Trump deve intensificar o movimento de alta das taxas, o que pode ser uma boa oportunidade para investidores.
E isso não exclui os brasileiros, que podem investir neles diretamente por meio de corretoras voltadas para o mercado americano ou até mesmo por meio de BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que são títulos negociados na bolsa brasileira que “espelham” ativos estrangeiros, de fundos de índices americanos ligados às “treasuries”.
Mas, assim como os brasileiros podem alocar seu capital nos títulos do Tesouro americano, outros investidores também podem tirar seus dólares de mercados e países mais arriscados (como a bolsa do Brasil) rumo à segurança da renda fixa dos Estados Unidos, que ainda por cima está pagando mais. Ou seja, o real pode se enfraquecer ainda mais.
Mas, segundo analistas, nem tudo está perdido. Existem alguns fatores que podem frear essa alta do dólar que parece tão inevitável agora. Um deles é a própria “governabilidade” do novo presidente. Ou seja: o quanto o Congresso vai apoiar suas medidas a ponto de colocá-las em prática.
“A burocracia, apesar de normalmente ser associada a algo negativo, pode ajudar um pouco. Afinal, para colocar em prática algumas medidas mais extremas de campanha, um presidente precisa de apoio no Congresso, precisa negociar. Então, pode ser preciso suavizar o discurso para aprovar algo”, afirma William Castro Alves, sócio e estrategista-chefe da corretora digital Avenue. Assim, algumas medidas mais extremas que podem trazer aumento forte da inflação podem não ser aprovadas ou, pelo menos, serem aprovadas de uma maneira mais branda, que não gere um aumento de preços tão intenso.
Um outro ponto importante é que, diferente da primeira eleição de Donald Trump, desta vez já era esperada uma vitória do republicano. Isso fez com que o dólar subisse de forma considerável nas semanas anteriores à eleição, no embalo do “Trump Trade”. Portanto, agora há menos espaço para uma alta firme. “As casas de apostas já mostravam que uma possível vitória do Trump estava ficando mais forte. E quando isso ganhou força, o dólar já ganhou um efeito maior. Então, o movimento agora pode ser menor”, afirma a economista Claudia Rodrigues, do C6 Bank.
Ainda que o cenário ainda dependa de muitos fatores, há quem já esteja receoso de investir na bolsa brasileira em meio a esse cenário. Mas, segundo especialistas, há oportunidades. Especialmente em empresas que se beneficiam dessa possível alta do dólar, como as exportadoras. As informações são do jornal Valor Econômico.