Domingo, 06 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 2 de janeiro de 2022
Oficialmente, Jeff Bezos é astronauta. Sério — podem perguntar para o governo dos Estados Unidos.
A Agência Nacional de Aviação (FAA, na sigla em inglês) anunciou o encerramento do programa que concede o pequeno pin dourado chamado “Emblema de Astronauta Comercial” para aqueles que viajaram ao espaço em naves particulares.
Mas antes de aposentá-lo, vai condecorar todos os que realizaram a façanha este ano e se inscreveram para recebê-la — o que significa que o bilionário fundador da Amazon, que viajou em um foguete de sua empresa espacial, a Blue Origin, tendo alcançado os limites do espaço em julho, será considerado um astronauta comercial.
E, como ele, Richard Branson, fundador da agência de turismo espacial Virgin Galactic, que pegou um foguete da própria companhia para ir ao espaço no mesmo mês. William Shatner, o astro de “Jornada nas estrelas” que alcançou a fronteira espacial com a nave da Blue Origin, em outubro, também receberá a honraria para aumentar a parafernália da Frota Interestelar que já possui. Na sexta, outras 12 pessoas passaram a engrossar a lista da agência federal.
Com as mudanças, a FAA evitará se ver na posição constrangedora de ter de anunciar que alguns turistas espaciais são apenas passageiros, e não astronautas.
O projeto foi criado por Patti Grace Smith, primeira diretora do setor espacial comercial da instituição, para promover a iniciativa privada em voos espaciais tripulados — diretiva advinda de uma lei de 1984, cujo objetivo era acelerar a inovação de veículos espaciais. E começou a distribuir os emblemas a indivíduos qualificados em 2004, sendo que Mike Melvill, piloto de testes da nave SpaceShipOne da Scaled Composites, foi o primeiro a recebê-lo.
Segundo as diretrizes originais, para se qualificar a pessoa tem de ter alcançado uma altitude mínima de 80.400 metros, marco estipulado pela Nasa e pela Força Aérea americana, e ser membro da “tripulação de voo”.
Reconhecendo o aumento na atividade, a FAA revisou os critérios em julho, um dia após Bezos ter subido ao espaço. A versão atualizada, exposta em um documento de cinco páginas, exigia que o tripulante “demonstrasse atividades essenciais à segurança pública durante o voo, ou contribuísse com a segurança do voo espacial tripulado”, modificação que alinhava o programa “mais diretamente à missão da agência, que é proteger a segurança do público durante as operações espaciais comerciais”, afirmou o órgão na ocasião. E também deu ao diretor do departamento o poder discricionário de conceder o emblema àqueles que “realizaram contribuições extraordinárias ou serviços benéficos ao setor espacial comercial tripulado”.
O advento do turismo espacial, mas principalmente essas novas regras da FAA, geraram um debate sobre quem pode realmente ser considerado astronauta.
A Nasa escolhe seu pessoal através de um processo de seleção minucioso, sendo que os candidatos passam por um treinamento técnico e de segurança exaustivo antes de embarcarem pela primeira vez para o espaço. Por outro lado, passageiros e turistas que entram no foguete New Shepard da Blue Origin treinam apenas alguns dias antes de se lançarem aos limites do espaço e voltarem, em uma missão totalmente autônoma de aproximadamente dez minutos de duração. A Virgin Galactic de Branson oferece uma experiência semelhante em um avião espacial lançado por uma aeronave transportadora em pleno voo.
As empresas também podem indicar os passageiros que devem receber o emblema da FAA. A Blue Origin recomendou todos os que já tinham participado dos voos da New Shepard, enviando requerimentos à agência, mas teve de aguardar meses por uma resposta. Não dava para saber se Bezos se encaixava na exigência de realização de “atividades durante o voo essenciais para a segurança pública”.
Mas o órgão acabou com qualquer dúvida na sexta, anulando os critérios estipulados em julho e concedendo o emblema para todos os que foram ao espaço em naves particulares este ano. A nova definição foi divulgada na seguinte nota: “Qualquer indivíduo que tiver permissão da FAA para participar de lançamentos a pelo menos 80.400 metros acima da superfície da Terra.”
Os primeiros quatro passageiros da SpaceX, que passaram três dias em órbita a bordo do Crew Dragon, em setembro, também foram condecorados.
Qualquer passageiro que voar nessas condições até o fim do ano também estará qualificado para receber a distinção. E embora ninguém mais receba o emblema físico a partir do ano que vem, quem voar de acordo com as especificações terá menção honrosa na base de dados oficial. Mas os futuros turistas espaciais não precisam se desesperar com a falta de reconhecimento: tanto a Virgin Galactic, como a Blue Origin e a SpaceX presentearam seus passageiros, pagos ou convidados, com emblemas próprios.