Domingo, 13 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 16 de junho de 2020
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou hoje que a utilização de dexametasona, medicamento da família dos esteroides, que reduziu significativamente a mortalidade em pacientes seriamente afetados pelo novo coronavírus é um “avanço científico” na luta contra a pandemia. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que este é o “primeiro tratamento comprovado que reduz a mortalidade em pacientes” que apenas conseguem respirar com recurso de ventilador, citado pela agência France-Presse.
“São boas notícias e congratulo o Governo britânico, a Universidade de Oxford e os muitos hospitais e pacientes no Reino Unido que contribuíram para este avanço científico que salvou vidas”, acrescentou o responsável.
O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla inglesa) vai começar a utilizar dexametasona para combater a doença provocada pelo SARS-CoV-2, depois de um “grande estudo” que foi feito para encontrar um medicamento eficaz no combate contra a pandemia.
O governante acrescentou que o medicamento já está disponível e que o Reino Unido tem 200.000 tratamentos armazenados e prontos para ser utilizados desde março.
A dexametasona não tem absolutamente nada de novo, sendo usada há décadas para tratamento de várias condições. Ela é um corticoide que pode ser usado para problemas na pele, alergias, complicações respiratórias e até mesmo no tratamento do câncer. No tratamento da Covid-19, sua aplicação mira encarar um efeito específico da infecção, conhecido como “tempestade de citocinas”.
As citocinas são proteínas liberadas pelas nossas células que ajudam a coordenar a resposta imunológica e causam a inflamação, que é um efeito natural do combate a um agente infeccioso. No entanto, a reação pode ser exagerada e descontrolada, como explica a New Scientist, e isso pode agravar a condição de um paciente.
Quando o vírus entra no pulmão, ele atrai as células do sistema imunológico para a região para tentar eliminar o invasor. No entanto, em alguns casos, quando as citocinas são liberadas em excesso, mais células são atraídas para a região, criando um ciclo que resulta na hiperinflamação, que pode ser letal. É um efeito que não é exclusivo da Covid-19, e que já tinha sido observado desde os primeiros dias da doença na China como um agravante da infecção.
A ideia de usar a dexametasona visa atacar especificamente esse efeito, e não o vírus em si. Ela suprime o sistema imunológico, impedindo reações exageradas à infecção. Especialistas já diziam há tempos que uma parte grande das mortes causadas pela Covid-19 estavam relacionadas a essa tempestade de citocinas, então um medicamento que seja eficaz contra essa resposta exagerada se mostra como uma opção interessante.
Vale notar, no entanto, que é importante dosar o uso do corticoide. A Nature cita que a Organização Mundial da Saúde havia emitido recomendações contra o uso desse tipo de droga justamente pelo efeito imunossupressor, já que o corpo humano precisa do sistema imunológico para conseguir eliminar o vírus.
O que o estudo mostrou foi que em uma dosagem baixa, de 6 miligramas diários por 10 dias, os ganhos de se atacar os exageros do sistema imunológico superaram os riscos de torná-lo ineficaz contra a infecção. Os pesquisadores não perceberam nenhum evento adverso digno de destaque durante os experimentos, e passaram a recomendar o tratamento para grande parte dos pacientes que dependam de internação, incluindo os casos moderados que precisam apenas de oxigênio e os que precisam de ventilação mecânica em leitos de UTI.
Por não atacar o vírus, o medicamento não deve ter qualquer efeito em casos mais leves de Covid-19, que não dependam de internação. O estudo não mostrou qualquer alteração nos resultados entre os pacientes que tinham infecções leves, o que faz sentido: o medicamento age contra a resposta exagerada do organismo, que não existe em casos menos agressivos da doença. Por este mesmo motivo, não deve ser usado para uso “profilático” por quem não está contaminado, nem deve ser usado sem supervisão médica.