Sábado, 12 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 8 de novembro de 2022
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva assumirá seu terceiro mandato com um mercado de capitais muito mais robusto e relevante do que quando saiu do governo, em 2010. Naquele ano, as empresas levantaram R$ 240 bilhões no mercado, por meio de operações concentradas nas mãos de poucos bancos e gestoras.
Passados 12 anos, a área mais que dobrou de tamanho e, em ritmo até mais acelerado, cresceu também o número de agentes e investidores. Em 2021, as companhias movimentaram R$ 600 bilhões. Este ano, mesmo com a ressaca das ofertas de ações, já captaram R$ 400 bilhões até setembro, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Na visão de interlocutores, essa nova condição é uma proteção importante contra eventuais políticas que reduzam a participação do mercado no financiamento das empresas e da infraestrutura, em favor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O futuro papel do BNDES, aliás, é um dos temas mais presentes nas rodas de discussão dos bancos de investimento e gestoras de recursos após a vitória de Lula.
Gestoras independentes de recursos, que começavam a ganhar força em 2010, hoje se proliferaram e têm patrimônio de mais de R$ 1,5 trilhão. Os prazos de pagamento para as empresas que tomam recursos emprestados no mercado também ficaram maiores. Algumas ofertas, como a recente emissão de debêntures da BRK Ambiental, que captou R$ 2 bilhões, chegam ao prazo de 20 anos, realidade distante no segundo mandato de Lula. O interesse das pessoas físicas por ações e títulos de dívida também cresceu no período.
Segundo os especialistas da área, outros dois fatores dão proteção ao mercado de capitais. O primeiro é a independência do Banco Central, com o presidente Roberto Campos Neto tendo mais dois anos de mandato durante o novo governo de Lula. O segundo é o colegiado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que também terá mais dois anos.
De acordo com o responsável por um banco de investimentos, a “grande interrogação do mercado neste momento é o papel do BNDES no novo governo”. Ele prevê “um caminhão de ofertas” de renda fixa em 2023, de empresas de energia elétrica, saneamento e concessão rodoviária para bancar investimentos de leilões realizados recentemente.
Hoje já não se fazem projetos de infraestrutura no Brasil sem a participação do mercado de capitais, afirma outro executivo de banco. “Quem tem R$ 400 bilhões, R$ 600 bilhões para bancar projetos hoje?”, indaga.
Para ele, o BNDES não tem mais tanto poder de capital. Em 2010, os desembolsos totais do banco de fomento somaram R$ 168 bilhões, cinco vezes mais do que quando Lula começou seu primeiro mandato, em 2003. Em 2021, o banco público teve desembolsos de R$ 64 bilhões, reflexo da política de Jair Bolsonaro de um BNDES menos financiador e mais estruturador de projetos. (O Estado de S. Paulo)