Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 14 de janeiro de 2023
A medicina alcançou feitos que há algumas décadas pareciam impossíveis. Um deles é a possibilidade de não apenas identificar, mas também tratar alterações enquanto o bebê ainda está no útero da mãe. Isso é importante porque muitas dessas disfunções, se não tratadas, podem levar ao parto prematuro, deixar sequelas ou até mesmo causar a morte da criança.
Além disso, também há uma mudança de paradigmas. Segundo Rita Sanchez, coordenadora do setor de medicina fetal do Hospital Israelita Albert Einstein, por muito tempo, um bebê só se tornava um paciente para a medicina após seu nascimento. Hoje, existe uma subespecialidade da ginecologia e obstetrícia toda dedicada para seu acompanhamento desde antes da gravidez: a medicina fetal.
Essa especialidade é conhecida pelas imagens de incríveis cirurgias realizadas via endoscopia ou com incisões que abrem a barriga da mãe, mas antes do parto em si. No entanto, o cuidado vai muito além disso.
“Apesar da cereja do bolo da medicina fetal ser a cirurgia, ela na verdade começa antes da gravidez. Precisamos orientar a mãe para que ela comece a gravidez mais saudável e com menos fatores de risco para o bebê desenvolver uma doença. Durante a gestação, tanto a mãe quanto o bebê são acompanhados para rastrear, diagnosticar e tratar problemas fetais e maternos, como risco de parto prematuro e hipertensão”, explica o médico Fábio Peralta, um dos maiores especialistas no assunto, responsável pelo serviço de medicina fetal e de cirurgia fetal da Maternidade São Luiz Star, que possui o centro mais avançado do país no diagnóstico e no tratamento intra útero.
Embora seja uma área relativamente nova na medicina, também é uma das que evolui mais rapidamente, em especial graças ao advento e sofisticação da ultrassonografia. Essas imagens não só satisfazem a curiosidade das mães, pais e avós, mas permitem que os médicos identifiquem alterações que só apareciam após o parto.
“Hoje, meu equipamento de ultrassonografia permite ver coisas que, com o anterior, não era possível. Isso possibilita o diagnóstico de doenças que a gente nem sabia que existiam”, diz o médico Fábio Peralta, responsável pelo serviço de medicina fetal e de cirurgia fetal da Maternidade São Luiz Star e um dos maiores especialistas sobre o assunto.
A imediata consequência dessa identificação foi o desenvolvimento de tratamento para essas condições.
“A evolução dessas tecnologias de imagem permitiu o desenvolvimento e o aprimoramento de tratamentos e exames complementares, que ajudam a avaliar se é necessário fazer uma intervenção precoce ou não”, complementa Sanchez.
O ideal seria fazer quatro ultrassonografias durante a gravidez para um bom acompanhamento pré-natal. O primeiro, indicado em torno da 7ª ou 8ª semana de gravidez, ajuda a determinar mais precisamente a data inicial da gestação, o que permite acompanhar com mais precisão se o bebê está crescendo e se desenvolvendo conforma o esperado. Ele também é importante para verificar se a gravidez está se desenvolvendo dentro do útero ou nas tubas uterinas, o que constitui um quadro grave que exige intervenção cirúrgica na maioria das vezes.
Mas, o exame mais importante realizado no primeiro trimestre da gravidez é o ultrassom morfológico. Indicado entre a 11ª e a 14ª semana, ele tem esse nome porque analisa diferentes estruturas do bebê e permite suspeitar do risco de alterações genéticas, como síndrome de Down, de problemas maternos como o pré-eclâmpsia ou parto prematuro e diagnosticar algumas malformações que exigem intervenção precoce. O índice de acerto na identificação de alterações é de cerca de 70%. Por isso, é necessário a realização de exames complementares para fazer o diagnóstico definitivo.
Se nada de errado for identificado, o que ocorre na maioria das gestações, o segundo ultrassom morfológico deve ser realizado entre a 18ª e a 24ª semana. Como nesse estágio o feto já está bem desenvolvido, a confiabilidade chega a 90%, segundo informações do Colégio Brasileiro de Radiologia. Um quarto ultrassom é recomendado entre 28 e 32 semanas para acompanhar o crescimento do bebê e o funcionamento e a localização da placenta.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 6% dos bebês em todo o mundo nascem com uma anomalia congênita, resultando na morte de 240 mil recém-nascidos por ano. Os problemas de saúde mais frequentes nos fetos que permitem uma intervenção dentro do útero são: mielomeningocele ou espinha bífida, transfusão feto fetal, hérnia diafragmática congênita, obstruções da bexiga e cardiopatias congênitas. Segundo Peralta, a maioria das cirurgias para essas condições é realizada entre a 19ª e a 26ª semana de gestação.