Quinta-feira, 28 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 25 de março de 2016
Com mais de mil contas a serem investigadas e o maior volume de dinheiro já bloqueado pelas autoridades, o Ministério Público da Suíça criou a maior operação anticorrupção de sua história e uma força-tarefa própria para investigar os crimes ligados à Lava-Jato. O esquema de desvios na Petrobras é o maior escândalo de corrupção já identificado no sistema financeiro do país europeu, superando casos envolvendo ditadores ou o episódio da Fifa.
Local de depósito de um terço da fortuna mundial privada, a Suíça tem em seus bancos cerca de 2,8 trilhões de dólares em ativos. Nos escritórios da procuradoria em Lausanne e em Berna, o caso envolvendo a estatal brasileira vem ocupando um espaço considerável. A complexidade das estruturas bancárias montadas para esconder o dinheiro elaborada por empresas e políticos brasileiros fez os suíços darem um tratamento inédito à investigação. Além de mais de cinco procuradores, a Lava-Jato suíça vai contar com analistas forenses do mercado financeiro, especialistas em cooperação internacional, membros da polícia criminal e funcionários da administração federal.
Por ora, mais de 800 milhões de dólares já foram bloqueados em conexão com a Lava-Jato. Parte desses recursos estava vinculada a ex-diretores da Petrobras, empresas controladas por empreiteiras, doleiros, intermediários de diferentes partidos brasileiros e políticos, como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Esses valores congelados superam os demais casos já investigados pelos suíços.
Padrões.
No caso brasileiro, os investigadores suíços identificaram alguns padrões e peculiaridades. Contas de políticos, empresas e intermediários mudavam de bancos depois de um determinado tempo e doleiros tinham os códigos para movimentar os recursos. O que também fica claro é a preferência dos suspeitos por “trusts”, uma estrutura legal, mas que acaba sendo usada para esconder os verdadeiros donos de contas.
Diante das descobertas, a Suíça também passou a investigar suas próprias instituições, para avaliar se não houve cooperação indevida ao abrir centenas de contas de pessoas cuja renda oficial não justificava os depósitos. Pelo menos três instituições financeiras são alvo de inquéritos. As instituições também foram instruídas a não aceitar mais abertura de contas de diretores da Petrobras ou de empresas fornecedoras da estatal. Dos 28 países envolvidos nas investigações da Lava-Jato, o Ministério Público brasileiro confirmou que os suíços têm sido os que mais cooperam. (AE)