Quarta-feira, 01 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 14 de maio de 2019
Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) está travando 14 indicações de novos embaixadores feitas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. A falta de um procedimento totalmente burocrático – a leitura em plenário da mensagem presidencial – impede que os nomes sigam para a CRE (Comissão de Relações Exteriores), onde serão sabatinados, votados e, por fim, remetidos novamente ao plenário, para que os senadores decidam, em votação secreta, se dão aval à escolha do novo embaixador. As informações são do jornal Valor Econômico.
Com isso, toda a dança de cadeiras no Itamaraty está atrasada e deve se arrastar até o fim do ano. Entre os embaixadores com indicações travadas por Alcolumbre estão Ronaldo Costa Filho, ministro de primeira classe escolhido para exercer o cargo de Representante Permanente do Brasil junto às Nações Unidas (ONU); Helio Ramos (Roma), por sua vez um nome considerado muito ligado ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ); Antonio Patriota (Cairo), chanceler na gestão da expresidente Dilma Rousseff; Carlos Simas Magalhães (Lisboa) e Flávio Damico (Assunção).
O motivo para que Alcolumbre atrase um trâmite tão simples, normalmente realizado assim que a indicação chega ao Senado, ainda é um mistério. O Valor solicitou uma resposta oficial do presidente sobre o caso e aguardou por quatro dias, mas nenhuma explicação foi dada. Neste domingo, Alcolumbre embarcou para Nova York, acompanhado de outros senadores, para participar de uma série de eventos com investidores e empresários brasileiros e estrangeiros. Ele retornará nesta quinta-feira.
À frente da CRE, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) também não ofereceu resposta ao caso. Por meio de sua assessoria, afirmou apenas que sua atuação “está limitada ao trâmite”, cujo seguimento cabe a Alcolumbre, e não se pronunciará antes das indicações chegarem ao colegiado.
Fontes do Ministério de Relações Exteriores e do Senado são taxativas em dizer que o banho-maria promovido por Alcolumbre nas indicações é absolutamente incomum. O Itamaraty buscou atuar junto ao presidente do Senado nas últimas semanas para, sutilmente, atentar para a demora. A falta de resposta levou a entender que o movimento é deliberado e que tem motivações “políticas”.
Chama a atenção também o fato de outros senadores não terem até agora pressionado o presidente, o que leva fontes envolvidas a cogitarem algum “acordo tácito” para atrasar as indicações e, com isso, passar a influenciar novas indicações junto ao Palácio do Planalto.
Fato é que, com a demora, deve haver atraso no xadrez em torno das remoções diplomáticas. Cada peça movida no tabuleiro tem uma série de implicações, em termos de remanejamentos, e a intenção era concluir esse processo ainda no primeiro semestre. Agora, a troca de embaixadores só deve ser concluída no fim do ano.
Outros diplomatas que tiveram suas indicações já enviadas por Bolsonaro ao Senado são o exchanceler Luiz Alberto Figueiredo, hoje em Lisboa, que vai para Doha, e três ex-subsecretários (o segundo escalão do Itamaraty) da última gestão: José Machado e Costa (Budapeste), Henrique Sardinha (Santa Sé) e Santiago Mourão (Unesco).
Sem a leitura das mensagens presidenciais, os embaixadores preferiram aguardar para fazer a tradicional peregrinação aos gabinetes de senadores da CRE, em que costumam se apresentar e pedir apoio às suas indicações.