Segunda-feira, 01 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 31 de agosto de 2025
A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni instou nesta sexta-feira as mulheres a denunciarem imediatamente quem compartilhe online fotos íntimas sem o seu consentimento, depois de ter se tornado ela própria vítima dessa prática.
— Estou enojada com o que aconteceu — disse Meloni ao jornal Il Corriere della Sera em meio a um grande escândalo pelo descobrimento de fotos manipuladas de várias mulheres — entre elas a própria primeira-ministra e a líder da oposição Elly Schlein — em um site pornográfico.
As imagens, que iam desde fotografias em comícios políticos até registros de férias roubados de contas pessoais em redes sociais, foram alteradas para destacar ou sexualizar partes do corpo das vítimas.
As fotos foram publicadas em um fórum online chamado Phica — um trocadilho com um termo vulgar usado em italiano para se referir à vagina —, que tinha mais de 700 mil inscritos antes de ser fechado na quinta-feira, sob a alegação de que os usuários haviam violado suas regras.
Outro escândalo semelhante estourou na semana passada, quando foi revelada a existência de um grupo italiano no Facebook, agora encerrado, chamado “Minha esposa”, em que homens publicavam fotos de suas companheiras acompanhadas de comentários vulgares, sexistas e violentos.
— Quero expressar minha solidariedade e apoio a todas as mulheres que foram ofendidas, insultadas e violentadas — declarou Meloni.
— É desalentador constatar que em 2025 ainda há quem considere normal e legítimo pisotear a dignidade de uma mulher e atacá-la com insultos sexistas e vulgares, escondendo-se atrás do anonimato ou de um teclado — acrescentou a primeira-ministra.
Cultura do estupro
Meloni, a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra na Itália, afirmou que os responsáveis pelos roubos e manipulações devem ser identificados e punidos “com a máxima severidade” o quanto antes.
— O conteúdo que se considera inofensivo pode, nas mãos erradas, tornar-se uma arma terrível, e todos devemos estar conscientes disso — disse.
“A melhor defesa que temos para nos proteger e proteger aqueles ao nosso redor” é “denunciar imediatamente” esses crimes, declarou, dirigindo-se às vítimas.
Schlein, por sua vez, afirmou que as publicações fazem parte de uma “cultura do estupro” que não apenas está “normalizada e justificada online”, mas também é amplificada por canais específicos usados para “a expressão dos piores impulsos”.
O site Phica existe desde 2005 e permaneceu ativo apesar de numerosas denúncias à polícia ao longo dos anos, segundo o portal digital Post.
A publicação relatou que o site organizava atividades chamadas “cum tributes” (“homenagens de sêmen”), nas quais homens enviavam fotos provando que haviam se masturbado com imagens de suas esposas ou das parceiras de outros usuários.
Uma vítima, Mary Galati, contou que descobriu fotos suas no site em 2023 e que, para investigar mais, precisou criar uma conta usando os documentos de identidade do pai, já que o Phica só aceitava usuários homens.
O site era “um inferno”, segundo o Post, que citou Galati dizendo que ali “maridos compartilhavam fotos de suas esposas e homens expunham suas parceiras ou familiares”.
“Inclusive pais subiam fotos de suas filhas muito pequenas — meninas de quatro ou cinco anos — sendo sexualizadas. Fotos de seus pés, de seus corpos, acompanhadas de comentários sexistas e pedófilos”, acrescentou a reportagem.
A ministra da Igualdade, Eugenia Roccella, disse que o governo estava trabalhando em reformas culturais para combater a “barbárie do terceiro milênio”, enquanto defensores dos direitos das mulheres anunciaram a possibilidade de uma ação coletiva contra o site. Com informações do portal O Globo.