Domingo, 04 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 4 de novembro de 2017
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Faz tempo que venho dizendo que a velha divisão entre esquerda e direita está com a validade vencida. Não sou o único a pensar assim. Semana passada, dois jornalistas brasileiros importantes, em artigos na Folha de São Paulo, deram a entender que compartilham a ideia.
Clóvis Rossi diz ter passado da idade “de ter ilusão com o populismo, com o liberalismo, com a direita, com a esquerda, e todos os etc. que o leitor quiser acrescentar. E Vinicius Mota escreveu um artigo em que o título já diz tudo: “Coerência ideológica é uma quimera”.
Veja o leitor que o PT – que se considera um partido de esquerda – é nacionalista, defende a produção nacional, os empregos nacionais. Mas nacionalista é também Donald Trump, que defende rigorosamente a mesma coisa para a América e os americanos. Ninguém dirá que Trump é de esquerda, menos ainda um petista.
O PT, as esquerdas em geral abominam – ou dizem abominar – banqueiros e multinacionais. Mas só quando estão fora do governo. Durante os governos Lula e Dilma os bancos tiveram lucros bilionários, muito superiores ao lucro que tiveram, por exemplo, nos governos FHC, os quais sempre foram classificados como sendo neoliberais e de direita. As multinacionais, de sua vez, nos 13 anos do lulopetismo, ganharam fortunas em programas de incentivos e desonerações de tributos, principalmente no período da “nova matriz econômica”, a fanfarronada de Dilma que ajudou a quebrar o seu governo, e cujas consequências pagamos até hoje e ainda vamos pagar um bom tempo.
No mundo inteiro e em todas as épocas (em geral) quem defende e faz a reforma agrária, é a esquerda. Mas se o leitor comparar os governos do PSDB, tidos como de direita, e os governos do PT, de esquerda, verá com surpresa, que FHC assentou mais famílias em programas de reforma agrária do que os governos de Dilma e Lula. Apesar disso, o MST de João Pedro Stédile, aliado incondicional do PT de Lula e Dilma, sente urticárias só de ouvir falar em FHC.
Na mesma batida, se FHC tinha entre os partidos da base aliada o PMDB, o PP, o PTB, era a prova de que ele era de direita. Já Lula e Dilma cuja base de apoio era praticamente a mesma de FHC, nem por isso se contaminaram, e permaneceram de “esquerda”.
O jornalista Mota observa que a direita acredita na lenda de que os banqueiros do mundo “querem corromper os valores da família”. Já a esquerda diz que os banqueiros querem, na verdade, é “sufocar a sublevação dos povos oprimidos”. Pode haver bobagens maiores? Os banqueiros só querem continuar ganhando seu rico dinheirinho, como sempre fizeram, desde que os bancos foram inventados.
E vai por aí. Dá para escrever um livro e descrever dezenas de situações em que as posições de esquerda e direita (tomadas a partir de sua definição histórica e original) se cruzam, entrecruzam e com frequência se trocam no mundo contemporâneo.
Por que a divisão clássica persiste, então? Porque isto tudo é apenas uma narrativa, uma quimera que distraídos de todos os lados, mas principalmente de esquerda, por preguiça de pensar ou por conveniência, teimam em acreditar e defender.
titoguarniere@terra.com.br
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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