Segunda-feira, 30 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 31 de outubro de 2021
Ouvir de um médico que você está com um câncer é algo muito difícil de aceitar. Para Caio Ribeiro, ex-jogador de futebol e comentarista da TV Globo, que descobriu um linfoma de Hodgkin em julho, não foi diferente. Na travessia de três meses que enfrentou para tratar a doença, ele descreve que receber a notícia de que estava com câncer foi “a pior parte”. “Você nunca imagina que isso vá acontecer com você.”
Em entrevista para a repórter Adriana Moreira, do Estadão, que também foi diagnosticada com câncer – que teve ainda a participação do jornalista Caio Possati –, Caio e ela falaram das diferenças e semelhanças dos tratamentos de cada um: assim como ela, o comentarista da Globo terminou recentemente o ciclo de quimioterapias, e está em fase de iniciar as sessões de radioterapia.
Para quem também está passando por algo semelhante, Caio manda um recado. “Se mantenha com a cabeça boa porque tem fim e tem cura. Então, vão ter dias mais chatos, vão ter dias mais fáceis ou menos chatos, mas existe um momento em que isso vai acabar.”
Mas, logicamente, a conversa não ficou apenas em torno disso. Enquanto torcia pelo Napoli – ele comemorou cada um dos três gols do time italiano durante a entrevista – Caio mostrou sua paixão pelo Caioba Soccer Camp, projeto de acampamento e futebol criado por ele e voltado para crianças.
1) Caio, quando você foi diagnosticado?
Descobri no começo de julho. Em uma sessão de fisioterapia para o joelho de prevenção, o fisioterapeuta foi alongar o meu pescoço e descobriu um “carocinho”. Ele sugeriu que eu comentasse com meu pai que é médico. Ele disse: “Filho, eu sou patologista. Eu sei quando uma coisa é muscular e quando é uma picada de inseto. E não é nada disso. Vai para o hospital amanhã”.
2) Quando a gente tem um diagnóstico, a gente cai para trás, não é verdade?
É a pior parte. Por mais que eu tenha descoberto no começo, a gente nunca imagina que vai acontecer algo assim. É uma porrada na boca do estômago. Eu não gosto de deixar as pessoas preocupadas. Então, eu falei (do diagnóstico) para o meu pai e para a minha esposa. Mas é duro você ver as pessoas sofrendo por sua causa. A minha mãe saiu da sala para chorar escondida. A minha esposa começou a chorar do meu lado. Então, você vê a cara deles e pensa: ou eu afundo ou eu enfrento.
Aí fui conversar com meu filho. Falei que não ia morrer, que não ia ser internado. Falei que estava com uma doença que não era leve, e que estava no meio do tratamento. Eu mostrei o meu cabelo para ele e sugeri: “Vamos passar máquina?”.
3) Você mostrava que estava bem, animado e comentava os jogos. Isso acaba dando forças para o público. Você foi procurado por outras pessoas que estavam em situações parecidas?
Nós retomamos o Caioba no final de setembro. Teve um recorde de crianças. E teve uma mãe, que me emocionou um pouco mais. Ela e o marido esperaram ao lado do palco a apresentação do evento se encerrar. Na hora que acabou, o marido me deu um abraço. Ela falou: “Caio, eu vi seu vídeo e estou com a mesma coisa (linfoma de Hodgkin) que você”. Eu comecei a me tocar e descobri por conta do seu vídeo. O que você está achando de mim?” Eu falei: “Você está linda!”. Ela falou: “Eu estou careca, isso é uma peruca, porque eu não queria assustar os meus filhos, e eu vi que você teve a mesma preocupação.”
Então, talvez eu esteja passando uma mensagem legal, de apoio, de força. E, a partir dessa onda de amor que eu recebo até hoje, veio uma segunda remessa de mensagens de pessoas passando pela mesma situação que a gente.
4) Em uma autoanálise, você vê um Caio antes e outro depois da doença?
Como eu recebi muito carinho, então acho que estou mais sensível. Eu falo sobre isso (câncer), eu choro; eu vejo filme e choro. Talvez no Caioba tenha acontecido uma mudança que vou contar para vocês. A gente tem cinco anos de projeto, mas, o nosso sonho sempre foi fazer um Caioba 100% social. Não é barato. Só que recebemos tanto carinho nesse período que a gente falou: “É o mês das crianças, vamos fazer uma edição especial? Vamos tentar devolver para as famílias que não poderiam estar com a gente porque é caro?”. Então, pela primeira vez, fizemos um Caioba para 170 crianças na edição “Dia das Crianças” deste ano. E dessas 170 crianças, 70 são de comunidades.