Segunda-feira, 28 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 25 de julho de 2025
Exportadores brasileiros recorrem a empresários dos Estados Unidos para engrossar o coro do impacto inflacionário que virá do tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump a produtos consumidos no dia a dia dos americanos. Entre os argumentos, afirmam que o aumento de taxas vai encarecer o café da manhã.
Produtos básicos como café e suco de laranja terão custo maior na importação com a tarifa de 50%, já que a conta é paga por quem importa. O Brasil fornece a maior parte do que é consumido desses dois produtos no mercado norte-americano, ou 70% do suco de laranja e 34% do café.
A estratégia, segundo representantes do setor exportador, é mobilizar os importadores a fim de sensibilizar a opinião pública sobre os impactos para economia doméstica nos Estados Unidos e da inflação dos alimentos. A expectativa é que as empresas americanas que importam os produtos agropecuários brasileiros pressionem o governo Trump para recuar no tarifaço ao Brasil.
O diálogo entre as contrapartes vem sendo intensificado à medida que se aproxima o prazo de 1º de agosto. Exportadores assumiram o compromisso junto ao governo brasileiro de buscar o diálogo e a interlocução com os empresários americanos. O pedido foi feito pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, em reunião do setor agropecuário no âmbito do comitê interministerial que discute a reação do governo brasileiro ao tarifaço dos Estados Unidos.
A articulação passa pela indústria de alimentos americana, pelo varejo e inclui a US Chamber of Commerce (Câmara de Comércio dos Estados Unidos), maior entidade empresarial do país. A USCC reúne várias associações empresariais e é um dos maiores grupos de lobby dos Estados Unidos.
A própria entidade já advertiu o governo americano sobre o risco do tarifaço à economia local. Agora, exportadores negociam junto à US Chamber a divulgação de uma nova nota pedindo a prorrogação do prazo para entrada em vigor da tarifa sobre produtos brasileiros.
A mediação ocorre entre cada setor exportador, a partir das entidades de classe e das empresas, e seus importadores correlatos.
No caso do café, um dos principais produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos, entidades que representam os exportadores têm tratado diretamente do tema com a National Coffee Association (NCA). O diálogo vem sendo conduzido pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) com a NCA.
A entidade americana, por sua vez, já acionou o governo dos EUA. “76% dos americanos consomem café. Além disso, a indústria do café gera 2,2 milhões de empregos e US$ 343 bilhões na economia americana. Por isso, o pedido que será levado pela indústria americana é para que o café entre em lista de exceção à tarifa”, relatou uma liderança do setor nacional quanto aos argumentos usados nos Estados Unidos, maior consumidor da bebida no mundo.
Quanto ao suco de laranja, gigantes como Coca-Cola, que tem operação global e importa o produto nacional para envase e comercialização nos Estados Unidos, têm atuado junto à indústria brasileira para buscar alternativas e calcular o impacto do aumento da alíquota.
Segundo o setor, a tarifa adicional imposta pelos Estados Unidos ao Brasil representa aumento de 533% sobre os US$ 415 por tonelada que já eram cobrados sobre o suco brasileiro para cerca de US$ 2.600 por tonelada.
No lado americano, a ofensiva para conter a taxação passou por um contencioso judicial. As importadoras de suco de laranja Johanna Foods e Johanna Beverage Company entraram com um pedido de alívio emergencial junto ao Tribunal de Comércio Internacional (CIT, na sigla em inglês) dos Estados Unidos contra a tarifa de 50% ao Brasil.
Em relação à carne bovina, as conversas passam pela Meat Import Council of America, que representa empresas que importam, processam e vendem carnes importadas nos Estados Unidos.
O diálogo chega também às redes de food service, já que boa parte da proteína vermelha exportada destina-se ao processamento de hambúrgueres. A mensagem de que o tradicional sanduíche do fast food americano vai ficar mais caro já chegou ao Mc Donald’s e ao Burger King. O recado já foi dado pelo presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa. Ele disse que, “com certeza”, o Big Mac ficará mais caro por lá.
Até o momento, o lobby direto sobre congressistas e autoridades americanas tem ficado por conta das articulações locais das empresas dos Estados Unidos, dizem pessoas a par do caso. Parte das empresas tem atuação global, com operação no Brasil e no mercado americano, o que facilita a interlocução por lá, apontam essas pessoas. (Com informações do jornal O Estado de S. Paulo)