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Colunistas Ciência demais, inovação de menos

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Produzimos conhecimento, mas não conseguimos transformá-lo em riqueza, soluções ou novos negócios.

Foto: Pixabay
Produzimos conhecimento, mas não conseguimos transformá-lo em riqueza, soluções ou novos negócios. (Foto: Pixabay)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O Brasil está entre os 15 países que mais produzem ciência no mundo. Publicamos milhares de artigos por ano, temos universidades de excelência e centros de pesquisa reconhecidos. No entanto, ao observar o Índice Global de Inovação (GII), o contraste é gritante: ocupamos apenas o 49º lugar entre 132 países.

Produzimos conhecimento, mas não conseguimos transformá-lo em riqueza, soluções ou novos negócios. Essa é a tragédia silenciosa da nossa política de ciência e tecnologia: muita pesquisa, pouca inovação.

Nosso modelo ainda é excessivamente acadêmico, baseado em métricas de produtividade científica que descolam o pesquisador da vida real. O pesquisador brasileiro é cobrado por artigos, não por impacto. O professor universitário é incentivado a manter distância do setor produtivo, quando deveria estar lado a lado. A inovação, nesse modelo, vira um acaso — e não um objetivo.

Enquanto isso, países como Israel, Portugal, Coreia do Sul e Estados Unidos estruturaram políticas nacionais que conectam ciência às demandas do mercado e da sociedade. Em Portugal, os Laboratórios Colaborativos (CoLABs) reúnem universidades, empresas e o governo para trabalhar em missões estratégicas. Em Israel, desde a graduação os alunos são expostos a projetos com aplicação prática. Nos Estados Unidos, Stanford e MIT são referências globais não só pelo que publicam, mas pelo que colocam no mundo: empresas, patentes, políticas públicas.

O Brasil tem exemplos de excelência, como a Embrapa ou a Fiocruz, mas ainda carece de uma visão estratégica de longo prazo. E essa ausência custa caro: ocupamos menos de 0,2% da produção mundial de patentes, mesmo sendo responsáveis por cerca de 2% da ciência publicada.

Investimos pouco em P&D (cerca de 1,2% do PIB), e a maior parte desse recurso está concentrada no setor público. Faltam mecanismos de cooperação, capital de risco e segurança regulatória para que a ciência transborde da universidade.

A consequência disso é o chamado “vale da morte da inovação”: o conhecimento é produzido, mas morre antes de chegar ao mercado, à política pública, ao território. Os dados mostram que menos de 10% dos doutores no Brasil atuam fora da academia. É uma força intelectual subutilizada, quando poderia estar impulsionando soluções em áreas críticas como clima, saúde, agro, mobilidade ou cidades inteligentes.

É urgente repensar nossa política de inovação com base em cinco pilares:

1. Ciência conectada às vocações produtivas: É fundamental que o investimento em pesquisa e desenvolvimento esteja alinhado com as principais cadeias produtivas e potencialidades do Brasil — como o agronegócio sustentável, a bioeconomia, a energia limpa, a saúde pública, a indústria verde e o turismo inteligente. A ciência precisa dialogar com os setores que movem a economia e gerar soluções que fortaleçam a competitividade nacional, promovam inclusão e ampliem o valor agregado da produção brasileira.

2. Integração universidade-empresa: Criar instrumentos legais, financeiros e operacionais que tornem a colaboração fluida, com fundos de fomento, uso compartilhado de laboratórios e propriedade intelectual ajustada à realidade dos projetos.

3. Formação empreendedora: Estimular a cultura da inovação nos programas de pós-graduação, apoiar spin-offs e preparar nossos mestres e doutores para serem também empreendedores e solucionadores de problemas reais.

4. Ambientes regulatórios de teste (sandbox): Permitir que soluções inovadoras sejam testadas com regras mais flexíveis, especialmente em áreas como saúde, educação, fintechs, energia e mobilidade urbana.

5. Inovação territorial: Apoiar sistemas regionais de inovação que unam prefeituras, empresas, universidades e sociedade civil para que a inovação não dependa apenas de Brasília, mas floresça nos territórios. O Brasil tem uma ciência pujante, reconhecida internacionalmente por sua produção acadêmica consistente e qualificada. No entanto, esse vigor científico ainda carece de um viés empreendedor e de um compromisso mais claro com a criação de soluções concretas para os desafios da sociedade.

A boa ciência tem o poder de transformar realidades, mas para isso precisa estar conectada ao presente e às possibilidades do futuro. Não nos falta conhecimento — falta traduzir esse conhecimento em impacto. O país não precisa de mais teses que terminam em prateleiras; precisa de pesquisa com propósito, orientada por missão, capaz de gerar valor social, ambiental e econômico.

O foco das políticas públicas nacionais de ciência e tecnologia devem estar a serviço de algo maior: da soberania, da sustentabilidade, do bem-estar e da prosperidade nacional. Nenhum país inova por acidente. Inovar é uma escolha. E está na hora de o Brasil escolher.

(Rafael Bechelin é membro do Grupo Front, especialista em Inovação em governos e cidades inteligentes e executivo da GOV.UP)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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Hi, and bye bye
https://www.osul.com.br/ciencia-demais-inovacao-de-menos/ Ciência demais, inovação de menos 2025-07-17
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