Quinta-feira, 16 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 14 de setembro de 2015
As pernas tremem continuamente. Lucas (nome fictício) parece não encontrar posição confortável na cadeira. Os olhos pulam de um ponto para o outro da sala e se enchem de lágrimas quando ele explica o seu drama: “Eu fui um idiota. Estava bêbado, nem sei como fui parar naquele lugar. Acabei transando com duas prostitutas sem camisinha”, contou o cineasta, de 28 anos.
A experiência lhe custou um namoro de três anos e uma noite insone pelo temor de ter contraído o vírus HIV. Para o segundo problema, no entanto, Lucas encontrou alívio em três comprimidos que têm sido chamados de “pílulas do dia seguinte da aids”, ou “pílulas dos 28 dias seguintes”.
A medicação previne a contaminação por HIV em 99% dos casos desde que seja tomada até 72 horas depois da situação de risco e ao longo das quatro semanas seguintes.
O nome médico para o tratamento é PEP (Profilaxia Pós-Exposição). Já existe no Brasil há anos, mas, por muito tempo, ficou restrito a profissionais da saúde que sofreram acidente de trabalho ou a vítimas de violência sexual.
Desde 2012, timidamente, passou também a ser ministrada a pessoas que passaram por qualquer situação de risco. Neste ano, o Ministério da Saúde anunciou a decisão de facilitar ainda mais o acesso.
De acordo com o novo protocolo, publicado no dia 23 de julho, médicos de qualquer especialidade podem prescrever o remédio, fornecido de graça pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A mudança acontece depois de a ONU (Organização das Nações Unidas) publicar um relatório mostrando que, de 2005 a 2013, o número de novas infecções no mundo diminuiu 27,6%, enquanto, no Brasil, aumentou 11%.
De 2010 a 2014, a quantidade de doses de PEP distribuídas pelo governo saltou de 12 mil para 22 mil. A perspectiva é que esse montante seja bem maior neste ano. O ministério espera que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) derrube a regra segundo a qual só médicos podem receitar as pílulas, autorizando qualquer funcionário de saúde a prescrevê-las.
Estimativa.
Até o fim do ano, as pílulas devem estar em cerca de 800 hospitais e pronto-socorros do País. Aumentará especialmente o número de estabelecimentos 24 horas que oferecem o tratamento. Como a PEP é uma alternativa pouco conhecida, o perfil do paciente que procura o serviço é de um nível educacional e econômico mais alto do que a média dos frequentadores do sistema público de saúde.
Cada tratamento de PEP custa cerca de 1 mil reais. O Ministério da Saúde afirma que, ao expandir o acesso, a ideia não é passar a mensagem de que a camisinha pode ser descartada durante uma relação. (DSP)