Domingo, 24 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 23 de agosto de 2025
O governo Lula deverá adotar o mote de “Brasil soberano” nos eventos comemorativos do Dia da Independência, em 7 de setembro, em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no STF (Supremo Tribunal Federal) e à ofensiva do governo Donald Trump contra o país com a imposição da sobretaxa de 50% a produtos brasileiros e sanções a autoridades.
Dois auxiliares diretos do presidente da República dizem que a defesa da soberania, que já vem sendo adotada em discursos do petista e foi citada na cerimônia no 7/9 do ano passado, ganha nova relevância justamente pelo contexto político atual.
Eles afirmam que é um momento também de o governo reafirmar as bandeiras do patriotismo e da defesa da nação, que nos últimos anos estiveram atreladas ao bolsonarismo.
O desfile cívico-militar deste ano é coordenado pelo governo Lula com auxílio do Comando Militar do Planalto, o principal braço do Exército em Brasília. A Casa Civil está na fase final da licitação para a montagem da estrutura do desfile.
A empresa Palestino Estrutura e Eventos Ltda foi a vencedora, com uma proposta para levantar tribunas e arquibancadas por R$ 4,3 milhões.
A proposta prevê a instalação de cinco tribunas para autoridades e familiares e 15 arquibancadas para o público geral, com capacidade de 30 mil pessoas. O contrato que será assinado ainda prevê tendas de apoio, área reservada para imprensa e grades de segurança.
O Exército vai mobilizar cerca de 2.000 militares das Forças Armadas, além de veículos blindados e aviões.
O evento ocorre dias após a Primeira Turma do STF iniciar o julgamento de Jair Bolsonaro, militares e aliados pela trama golpista de 2022 e 2023. O Supremo vai começar o julgamento no dia 2 de setembro. A decisão deve ser conhecida na semana seguinte.
Dois oficiais-generais lamentaram a ocorrência do 7 de Setembro em meio ao julgamento. Um deles reforçou que Bolsonaro fazia uso político do desfile militar e fez alguns de seus principais ataques ao Supremo em cerimônias do Dia da Independência.
O receio entre militares é que atos bolsonaristas contra o Supremo, previstos para a mesma data, chamem mais atenção do que o desfile. Eles ressaltam, porém, não haver preocupações com a segurança do evento oficial.
Um ministro diz que o governo não deve se assustar diante da proximidade do julgamento de Bolsonaro e afirma que a data serve também para reforçar o patriotismo nacional. Além disso, diz ele, a atuação da família do ex-presidente nos Estados Unidos contra os interesses do Brasil reforça uma postura antipatriótica do clã Bolsonaro.
Ainda não há uma definição se o presidente Lula fará pronunciamento em cadeia nacional por ocasião da data, mas a possibilidade não está descartada. Em 2024, o petista usou o pronunciamento do 7 de Setembro para criticar o bilionário Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), que naquele momento protagonizava uma disputa com o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
“Nenhum país é de fato independente quando tolerar ameaças à sua soberania. Seremos sempre intolerantes com qualquer pessoa, tenha a fortuna que tiver, que desafie a legislação brasileira. Nossa soberania não está à venda”, disse Lula.
Em julho deste ano, o presidente fez um pronunciamento em cadeia nacional sobre o tarifaço anunciado por Trump. Nele, o petista usou termos como “pátria soberana”, “defesa da soberania” e “defesa do Brasil” e disse que o país “tem um único dono, o povo brasileiro”.
Além da cerimônia institucional, centrais sindicais e as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo estão anunciando atos para a data, classificando-a como o Dia Mobilização Nacional. Até quinta-feira (21), havia atos previstos em ao menos 18 capitais. O maior deles deverá ser em São Paulo, na praça da República.
Em divulgações nas redes sociais, há frases como “Brasil soberano” e “quem manda no Brasil é o povo brasileiro”, além do uso das cores da bandeira nacional.
Não há previsão de Lula participar desses atos —ele deverá acompanhar somente o desfile na Esplanada dos Ministérios.
Do lado do Bolsonarismo, por sua vez, o discurso agora tem sido o de manter a militância unida para mobilizações expressivas no 7 de Setembro, como expôs Malafaia logo após ser alvo de operação da PF. Os atos já estavam marcados para cidades por todo o país quando foi marcado o julgamento no STF.
Um dos principais organizadores é justamente Malafaia, que promete manter e reforçar os chamados aos apoiadores.
As últimas manifestações foram menores do que as do ano passado. A avaliação é de que a militância ficou desanimada com tantos atos, mas a última foi melhor do que a expectativa, graças às sanções do governo de Donald Trump —com quem aliados contam para manter retaliação a ministros do STF.
A estratégia agora envolve dobrar a aposta nos atos no 7 de Setembro como tentativa de demonstrar força e ampliar a pressão sobre a corte. Um dos obstáculos envolve a própria revelação de movimentações financeiras de Bolsonaro (que recebeu cerca de R$ 44,3 milhões em suas contas bancárias de março de 2023 a junho de 2025, segundo a PF), fator adicional de desgaste. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.