Segunda-feira, 14 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 12 de dezembro de 2021
Milhares de pessoas foram às ruas de Buenos Aires, neste fim de semana, para manifestar repúdio a um acordo da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), por meio do qual o presidente Alberto Fernández tenta refinanciar uma dívida de US$ 44 bilhões. O protesto contou com partidos de esquerda, organizações sindicais, sociais e estudantis.
“Pagar a dívida é ajuste”, “A dívida é com o povo” e outras mensagens estampavam cartazes exibidos pelos manifestantes que lotaram a Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do governo. Repetindo “Fora FMI!”, os manifestantes pediram ao governo para não reconhecer a dívida, que consideram “ilegítima e fraudulenta”.
Em uma proclamação lida em frente à sede do governo, a esquerda convocou a formação de “uma frente ampla contra o acordo com o FMI” e pediu ao governo que use este dinheiro “para melhorar os salários e aumentar os orçamentos de saúde, educação e habitação”.
Na sexta-feira passada (10), diante de uma Praça de Maio lotada de pessoas que lhe manifestaram seu apoio, o presidente Fernández ratificou que vai assumir o pagamento da dívida com o FMI, mas prometeu que o fará sem um ajuste fiscal “que comprometa o crescimento”.
Fernández estava acompanhado de sua vice-presidente, Cristina Kirchner, e dos ex-presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Uruguai, José Mujica, que também lhe deram apoio.
O FMI informou em um comunicado que “houve avanços” para um acordo em reuniões técnicas com uma missão argentina que viajou a Washington na semana passada.
A Argentina negocia as condições para refinanciar um empréstimo de 44 bilhões de dólares que o FMI concedeu ao país durante o governo do liberal Mauricio Macri (2015-2019).
O acordo vigente com o FMI obriga o pagamento de vencimentos em 2022 e 2023 de mais de 19 bilhões de dólares cada um e de cerca de US$ 5 bilhões em 2024.
A Argentina, que entrou em recessão em 2018, tem uma das taxas de inflação mais altas do mundo (41,8% de janeiro a outubro) e mais de 40% de pobres em uma população de 45 milhões de habitantes.
Depoimentos
Em meio a cânticos e o rufar de tambores, milhares chegaram à Praça de Maio com cartazes contra o acordo. “Não aguentamos mais”, declarou à imprensa a trabalhadora Emilse Icandri, de 26 anos, que foi protestar contra o FMI na bicicleta com a qual faz entregas em domicílio, assim como centenas de jovens em empregos precarizados.
“Não temos salários nem direitos e sabemos que as medidas de ajuste estão ligadas à questão geral do país. Se o governo fizer um pacto com o Fundo, esta grana tem que sair de algum lugar e vai ser paga às custas do suor dos trabalhadores”, criticou.
Rosmary Castro, uma boliviana de 68 anos residente na capital argentina, concordou. Debaixo do chapéu de aba larga que a protegia do sol inclemente em Buenos Aires, ela desabafou:
“O Fundo sempre foi um inimigo do povo. O povo latino-americano está cansado de sofrer. Nós não fizemos esta dívida, então não vamos pagá-la”.
“Para pagar a dívida, o governo tem que ajustar e isso vai ser sentido nos bairros populares”, afirmou Elías Chino, de 30 anos, que foi ao centro procedente de Lomas de Zamora, na periferia sul de Buenos Aires onde, assegurou, “as pessoas não conseguem mais comprar alimentos, estão caríssimos”.
Na sua opinião, um acordo com o FMI só trará “mais penúrias para os pobres, quando ainda estamos nos recuperando do impacto econômico da pandemia” de coronavírus. “Quando a classe abastada pagou pelo ajuste? Nunca!”.