Terça-feira, 09 de setembro de 2025
Por Gisele Flores | 8 de setembro de 2025
Sincodiv/Fenabrave-RS reúne lideranças do setor automotivo na Casa da Rede Pampa, na 48ª Expointer.
Foto: Anna SilvaO mês de agosto trouxe um alerta silencioso para o setor automotivo do Rio Grande do Sul. Com 14.947 unidades emplacadas, contra 16.459 em julho, o Estado registrou uma retração de 9,19% nas vendas — um movimento que, embora parcialmente explicado pelos dois dias úteis a menos, revela algo mais profundo: a persistente cautela que permeia a economia gaúcha.
No acumulado do ano, o mercado automotivo do RS soma 118.247 unidades comercializadas, praticamente estável frente às 118.949 de 2024. Mas essa estabilidade é enganosa. Enquanto o Brasil avança com crescimento de 6,58% nas vendas, o Rio Grande do Sul caminha na contramão, ocupando apenas a 9ª posição no ranking nacional de emplacamentos, atrás dos seguintes estados:
A posição gaúcha nesse ranking não é apenas um número — é um reflexo da dificuldade de recomposição do consumo e do investimento em um estado que ainda digere os impactos da tragédia climática, da retração no agronegócio e da lentidão industrial.
A análise por segmentos revela um cenário fragmentado e preocupante. O setor de automóveis caiu 18,19% em relação a agosto de 2024, refletindo a pressão sobre a renda das famílias e o crédito restrito. Comerciais leves despencaram 37,76%, acompanhando a lentidão do agronegócio e da construção civil. Caminhões, termômetro da logística e da indústria, retraíram quase 48%. Até as motocicletas, tradicionalmente resilientes, sofreram queda de 24%, pressionadas por tributos elevados e dificuldades de financiamento.
A única exceção foi o segmento de ônibus, que, apesar da queda pontual em agosto, acumula crescimento de 27,80% no ano, impulsionado por programas de renovação de frota e retomada da mobilidade urbana.
Durante o Encontro Regional promovido pelo Sincodiv/Fenabrave-RS, realizado na Casa da Rede Pampa durante a 48ª Expointer, um conjunto de propostas foi apresentado ao Governo do Estado. Entre elas, a eliminação da vistoria física para veículos zero quilômetro, a criação de uma secretaria específica no Detran-RS para atender locadoras, e a redução do custo da CNH para motociclistas — considerando que 47% dos condutores ainda não possuem habilitação. A implementação do Renave de usados também foi defendida como ferramenta de formalização e dinamização do setor.
Enquanto o Brasil projeta crescimento de 6,2% para o setor automotivo em 2025, o Rio Grande do Sul prevê queda de 1,8%. O presidente do Sincodiv/Fenabrave-RS, Jefferson Fürstenau, resume o momento: “A soma dos fatores freou a recuperação do setor automotivo, nos colocando em pé de desigualdade em relação aos outros estados”.
O que está em jogo não é apenas o desempenho de um setor — é a capacidade do Estado de reagir, de se reinventar, de criar condições para que o consumo e o investimento voltem a pulsar. O freio que hoje desacelera o mercado automotivo é o mesmo que limita o crescimento da economia gaúcha como um todo.
É hora de ouvir os números. E mais do que isso, é hora de agir.