Sexta-feira, 25 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 3 de agosto de 2018
O patrimônio imobiliário da família do presidente da República Michel Temer (MDB) soma atualmente 33 milhões de reais. São casas, apartamentos e salas comerciais distribuídos pela região mais valorizada da capital paulista: a avenida Brigadeiro Faria Lima, na Zona Oeste de São Paulo.
Conforme reportagem da revista Piauí, quase tudo foi adquirido nas duas últimas décadas, período que coincide com a ascensão política de Temer, de deputado suplente a presidente da República, e à sua crescente influência na gestão do porto de Santos e seus contratos milionários.
Curiosamente, quase nada desse patrimônio milionário está em nome de Michel Temer, exceto alguns poucos terrenos e uma chácara em Tietê, sua terra natal no interior paulista. Ao mesmo tempo em que comprava imóveis, o político também os doava, primeiro à ex-mulher, em seguida às três filhas e por último à atual cônjuge, Marcela, e seu filho caçula, Michelzinho. Assim, a partir da virada do século, o patriarca fica cada vez mais pobre em bens imóveis, ao contrário dos seus familiares.
Um personagem foi sempre muito presente nessas negociações: o advogado José Yunes, amigo de Temer desde os tempos da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) e profundo conhecedor do mercado imobiliário paulistano. O próprio Yunes vendeu imóveis para a família Temer.
Durante quatro meses, a reportagem da revista Piauí se debruçou sobre o histórico dos bens imóveis dos Temer no Estado de São Paulo desde a década de 1960. O resultado mostra a evolução patrimonial do atual presidente da República, paralelamente à sua carreira política e ao avanço das investigações da Polícia Federal sobre supostos atos de corrupção no porto de Santos envolvendo o presidente e seu núcleo político mais próximo.
Conforme o levantamento, de janeiro de 1998 até agora, a família Temer movimentou 61,7 milhões de reais na compra e venda de imóveis na Zona Oeste paulistana. Nesses 20 anos, o patrimônio imobiliário do clã Temer aumentou quase cinco vezes – passou de 6,8 milhões para os atuais 33 milhões de reais.
Operação Skala
No início de 2017, com base na delação do empresário Joesley Batista, do grupo J&F, a PF (Polícia Federal) instaurou um inquérito para investigar Temer e seu grupo político. Um dos alvos era Rodrigo Rocha Loures, deputado federal pelo PMDB do Paraná, homem de confiança do presidente.
A pedido do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou a PF a monitorar as conversas telefônicas de Loures. As gravações serviram de base para a abertura de um novo inquérito, a fim de apurar supostas práticas de corrupção do grupo político de Temer.
Em fevereiro deste ano, a pedido da PF, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do presidente. No mês seguinte, na manhã de 29 de março, a PF deflagrou a Operação Skala. Treze pessoas foram presas temporariamente, entre elas Yunes.
Em novo depoimento à PF, Yunes defendeu a legalidade das transações imobiliárias dele com a família Temer – “tudo foi registrado em cartório e também declarado no imposto de renda”.
Quando a Polícia Federal e a PGR (Procuradoria-Geral da República) decidiram apertar o cerco contra Temer e seu grupo político, no ano passado, o presidente era um homem de poucos bens: tinha dez terrenos e uma chácara recebidos de herança dos pais em Tietê. Um patrimônio que soma 101 mil reais. Nem a casa em São Paulo, em que reside com a mulher e o filho caçula, pertence mais a ele – foi doada ao filho Michelzinho, assim como as duas salas comerciais no Edifício Lugano que o presidente comprou de Yunes na virada do século. Temer ganha atualmente um salário mensal líquido de 25 mil reais, a maior parte decorrente de sua aposentadoria como procurador.
Por e-mail, a assessoria de Comunicação da Presidência declarou à reportagem que a evolução do patrimônio imobiliário da família é compatível com os rendimentos de Temer e que está tudo declarado em seu imposto de renda.