Domingo, 13 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 12 de dezembro de 2021
Depois de seis anos, Jack Dorsey deixou no final de novembro o comando do Twitter, empresa que ele ajudou a fundar em 2006. Mais do que uma virada de página para a rede do passarinho azul, o fim da gestão de Dorsey também encerra a era na qual as grandes empresas de internet contavam com carisma e o pulso firme de seus fundadores.
Agora, está estabelecida uma nova geração de chefões no mundo tecnológico, que tem pela frente o desafio de gerir grandes companhias em um contexto de menos encantamento e mais pressão regulatória.
Antes de Dorsey, Jeff Bezos deixou o comando da Amazon após 27 anos – o anúncio ocorreu em fevereiro e a saída em agosto deste ano. O bilionário decidiu se dedicar à empresa de exploração espacial Blue Origin – em julho, ele próprio participou de uma viagem suborbital da companhia, a bordo do foguete New Shepard.
Já o fundador do Twitter também parece animado em deixar para trás o mundo da internet “tradicional”. Dorsey se dedicará ao mundo das criptomoedas: ele é CEO da fintech Block desde 2009 e mantém uma paixão pelos ativos digitais.
“Acho que é fundamental que uma empresa possa se manter por conta própria, livre da influência ou direção de seu fundador”, disse Dorsey. Claro, o executivo pode estar pensando na saúde da empresa, mas o momento também é conveniente para quem sai.
Nos últimos anos, a euforia com empresas de tecnologias foi silenciada por um escrutínio global. Com isso, mais do que apresentações glamourosas de produtos e balanços financeiros estupendos, os CEOs passaram a lidar com críticas envolvendo temas como privacidade, segurança e monopólio.
Depor perante congressistas americanos, por exemplo, virou rotina para os chefões – EUA e Europa têm cobrado cada vez mais esclarecimentos sobre concorrência desleal, moderação de conteúdo, funcionamento de algoritmos, entre outras questões. A diversão virou dor de cabeça.
Antes de deixarem Amazon e Twitter, Bezos e Dorsey guiavam barcos em águas turbulentas. Para além de ser uma empresa com capacidade de entregas megarrápidas, a Amazon passou a ser questionada por más condições de trabalho em seus armazéns – circulam acusações de que os funcionários da varejista sofrem com regras rígidas em relação a pausas no horário de trabalho, incluindo para usar o toalete.
A Amazon também tem sido alvo de ações antitruste, que alegam que a empresa usa dados não públicos de vendedores de sua plataforma para obter vantagem competitiva no mercado.
O Twitter, por sua vez, está no centro de debates sobre moderação de conteúdo e enfrenta críticas sobre o funcionamento dos algoritmos da plataforma e seu papel na distribuição de conteúdo falso e extremista.
Sinuoso
Para especialistas, a troca de gestão é um processo natural e saudável para as companhias, seja qual for o mercado. “O empreendedor leva o negócio até um certo momento e, às vezes, em um determinado ponto ele não tem mais ambição de continuar desenvolvendo o negócio. Você chegou no topo da montanha e o que você faz? Acha outra montanha para subir”, afirma Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo e inovação do Insper.
Esse processo de mudança de direção das Big Techs começou há alguns anos. Em 2019, Larry Page e Sergey Brin, responsáveis por criar o motor de buscas que deu origem ao Google em 1998, deixaram os cargos executivos na Alphabet (holding que controla a marca), passando o bastão para Sundar Pichai. Page e Brin também partiram para projetos futuristas longe da internet, como táxis voadores.
É um movimento recente inclusive na geração mais antiga de grandes companhias tecnológicas. Na Microsoft, Bill Gates deixou o cargo em 2000 e permaneceu no conselho da companhia até 2020 – enquanto o bilionário afirma que deixou a cadeira para se dedicar a trabalhos filantrópicos, a Microsoft diz que a saída do magnata da diretoria foi uma recomendação do conselho após uma investigação de assédio sobre um caso extraconjugal do bilionário.