Domingo, 25 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 3 de novembro de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A escolha final era entre Bolsonaro e aqueles que, pelos seus erros crassos, pela sua arrogância, criaram o personagem. Os 13 anos de governos petistas esgarçaram em tal medida as relações sociais que acabaram por produzir o seu antípoda. Não haveria Bolsonaro, não houvesse o PT, sua forma de governar, sua teoria e prática. Os eleitores não votaram em Bolsonaro. O recado foi outro: basta, fora PT.
E no entanto, olhados de perto, os adversários, os inimigos ferrenhos, guardam entre si convergências e afinidades.
Não, a disputa não foi entre democracia e ditadura. Bolsonaro, ao longo de sua vida de deputado mediano, e agora em campanha, elogiou a ditadura, justificou a tortura. Certamente, devemos repudiá-lo. Mas quando Haddad e o PT defendem Maduro e a ditadura bolivariana de Caracas, devemos relevar? Haddad não tinha como vice Manuela, do PCdoB, que na data nacional da Coreia do Norte envia mensagem de felicitações ao tiranete bizarro Kim Jong-Un?
No campo da economia, onde com frequência se trava e se decide a eleição, há empate técnico, com pequena margem de erro, entre os dois opositores. Ambos são estatistas, nacionalistas e nenhum deles explicitou com firmeza a forma como enfrentariam o déficit fiscal, e o rombo da previdência.
Alguém dirá que a distinção está nas políticas de inclusão social. Mas neste terreno Bolsonaro e Haddad disputaram cada milímetro quem, dentre eles, faria mais concessões no Bolsa Família, incluindo um inovador 13º salário no programa. Não faltaram promessas de reajustes acima da inflação, do salário mínimo e das pensões e aposentadorias e de uma generosa redução de 50% no preço dos bujões de gás (Haddad). E assim por diante. Tudo já a partir do mês da posse, isto é, janeiro de 2019. É como se o Brasil estivesse nadando em dinheiro, e não estivesse suando sangue para pagar a conta maldita da recessão.
Sim, há em Bolsonaro ameaças sombrias, sugestões fascistoides no seu discurso. Mas a campanha apontou rigoroso equilíbrio nas ofensas ao senso comum e à verdade, nas “fake news”, na demagogia. O jogo foi bruto, as caneladas de parte a parte. Ninguém se destacou nos quesitos de civilidade e elegância.
Não consigo ver sinais de que a marcha da insensatez seja interrompida. Mas há uma mudança notável: agora, só uma das partes, um dos personagens pode amenizar a retórica, falar como governante de todos, distensionar o ambiente.
Essa responsabilidade é do vencedor, Jair Bolsonaro. Dele não temos o direito apenas de esperar que respeite a lei e a Constituição. Do presidente deve-se exigir mais, que ele supere os ressentimentos, os antigos e os recentes, e que ofereça à nação uma palavra construtiva, uma mensagem de paz e tolerância, a promessa de uma convivência respeitosa e civilizada entre os brasileiros – todos –, os que votaram nele e os que, como eu, não votei.
Não é estilo do novo presidente recuar, baixar o tom. É pouco provável, mas quem sabe ele calce as sandálias da humildade e não cometa, na presidência, o erro da autossuficiência, o pecado capital da soberba. De soberba, de arrogância, nos bastam os 13 anos do PT.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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