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Por Redação O Sul | 19 de dezembro de 2019
O medicamento fraudulento que prometia emagrecimento rápido e que foi alvo de operação conjunta da Polícia Civil e do Ministério Público de Goiás no início de dezembro, segue sendo vendido na internet. Por R$ 179,90, é possível comprar um frasco do “Moder Diet” no site da marca. A embalagem vem com 40 cápsulas de cor vermelha e branca. No portal, também seguem disponíveis combos promocionais com duas, três ou cinco unidades, que podem chegar até R$ 719, ou ainda opções com preços diferenciados para revendedores. As informações são do jornal O Globo.
A investigação que desmantelou a quadrilha que fabricava o produto foi revelada no último domingo (15) no programa Fantástico, da TV Globo. O medicamento vendido como fitoterápico e de composição natural à base de plantas era, na verdade, produzido a partir da junção de duas substâncias químicas controladas — a sibutramina, que diminui a sensação de fome, e a fluoxetina, um antidepressivo.
A reportagem do “Fantástico” mostrou o depoimento de duas mulheres que compraram os remédios ditos naturais para emagrecer e sofreram com vários efeitos colaterais, como fisgadas no peito e formigamento em áreas do corpo, tontura e dor de cabeça, entre outros sintomas.
De acordo com o “Fantástico”, no sul do país, o mesmo produto era vendido com outro rótulo. Com o nome de “Fit gold”, o medicamento adulterado foi analisado pelo Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina, que além de sibutramina e fluoxetina, encontrou também diazepam, usado no tratamento de síndromes de ansiedade. Assim como o “Moder Diet”, o “Fit Gold” também pode ser encontrado à venda pela internet, por até R$ 199.
De acordo com a endocrinologista Livia Lugarinho Correa, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o primeiro passo para não correr risco no tratamento para emagrecer é não se automedicar.
“A obesidade é uma doença, portanto, o tratamento tem que ser feito com orientação médica, preferencialmente a de um endocrinologista. Nada de tomar um remédio do vizinho ou algo vendido pela internet.”
A especialista reforça que o tratamento contra a obesidade é personalizado para cada paciente. Para ela, a busca de fórmulas mágicas para emagrecer está relacionada à dificuldade de se encarar a obesidade como doença.
“Quem tem diabetes ou hipertensão não compra qualquer medicamento pela internet. Normalmente seguem a recomendação médica e compram os remédios certos”, afirma Livia.
A sibutramina é uma das quatro substâncias aprovadas pela Anvisa para tratamentos contra a obesidade. Mas seu uso só pode ser feito com receita médica. Os demais remédios são os que contém orlistate, lorcaserina e liraglutida 3mg.
Cápsulas eram produzidas em fazenda
No dia 4 de dezembro, 14 pessoas foram presas pela Polícia Civil na cidade de Paranaiguara, a cerca de 350 km de Goiânia. Entre os presos, além do homem apontado como chefe da organização criminosa, estão vendedores e funcionários da quadrilha, que trabalhavam na produção das cápsulas dentro da fazenda utilizada como laboratório. Duas mulheres estão no presídio feminino de Paranaiguara, e os 11 homens estão na penitenciária de Cachoeira Alta.
No laboratório improvisado, foram apreendidas cerca de 2 toneladas de produtos, entre medicamentos, insumos e vários instrumentos para encapsular o material, inclusive uma betoneira de construção civil, usada para misturar as duas substâncias que formam o produto. Quatro carros também foram apreendidos. Um dos veículos era um Porsche Boxster, avaliado em cerca de R$ 300 mil. Dentro do veículo, encontrado na cidade de Uberlândia, em Minas Gerais, foram encontrados R$ 1,3 mi em dinheiro.
O trabalho de investigação durou dez meses, e começou quando alguns moradores da cidade começaram a apresentar repentino crescimento patrimonial de origem desconhecida, o que levantou suspeita tanto do Ministério Público, quanto da Polícia Civil.
O primeiro passo da polícia foi encontrar o local em que o produto era fabricado, na cidade de Cachoeira Alta. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Rafael Gonçalves do Carmo, moradores dos arredores da fazenda utilizada como laboratório de produção desconfiaram da movimentação atípica na região.
“As substâncias podem ter sido importadas do Paraguai, por exemplo, mas temos indícios de que elas podem ter origem no território nacional. (Ainda) temos que rastrear a origem desses fármacos. Estamos fechando essa primeira fase da investigação, para poder seguir e identificar de onde vieram os produtos que eles utilizaram”, explicou o delegado ao jornal O Globo.