Sexta-feira, 22 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 20 de agosto de 2025
Investidores e analistas do mercado financeiro aguardam ansiosamente a realização de um evento anual que reúne nos Estados Unidos os presidentes dos bancos centrais de países de todo o mundo: a conferência de Jackson Hole, no estado do Wyoming.
A reunião começa nesta quinta-feira (21) e dura até sábado (23), mas o momento mais esperado acontece nesta sexta (22): o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Jerome Powell.
Emissor da moeda de referência do planeta, não é de espantar que o discurso da autoridade monetária americana seja o mais esperado num evento como este, onde os analistas ficam de orelha em pé para captar qualquer tendência nas declarações de banqueiros centrais.
Mas neste ano, o discurso de Powell é ainda mais esperado. Sob pressão constante do presidente dos EUA, Donald Trump, para baixar os juros, o presidente do Fed pode dar sinais mais concretos sobre uma expectativa crescente nos mercados: a de que o Fed está perto de iniciar um ciclo de queda dos juros básicos da maior economia do mundo.
O discurso anual do presidente do Fed em Jackson Hole pode ser uma oportunidade para sinalizar mudanças de política monetária. Powell utilizou o evento para esse propósito no ano passado, e realizou um corte significativo logo depois.
Assegurado no cargo pela autonomia do Fed, Powell deve adotar um tom “prudente” sobre o estado de saúde da economia norte-americana, já que, desde sua última intervenção, os dados se deterioraram, apontam analistas de mercado.
Embora quase todos os analistas concordem que o Fed deveria cortar suas taxas, a questão é determinar quando. O mercado aposta em um corte de juros após a próxima reunião do Fed, marcada para os dias 16 e 17 de setembro, segundo dados da ferramenta FedWatch, da CME.
Powell tem a plataforma ideal para dar um sinal claro de que o Federal Reserve está prestes a retomar os cortes de juros. Mas a economia não lhe oferece um sinal igualmente claro de que agora é a hora.
Ele está sob intensa pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para começar a reduzir os juros, que estão no maior patamar em quase duas décadas para combater uma inflação persistente desde a pandemia. O problema é que nem todos os principais indicadores econômicos apontam nessa direção.
Há algumas semanas, quando o último relatório de empregos revelou uma queda nas contratações, a justificativa para juros mais baixos parecia praticamente incontestável. Então, veio a maior alta nos preços no atacado dos EUA em três anos — o que alimentou a preocupação com a inflação impulsionada por tarifas, que tem mantido as autoridades do Fed em espera até agora neste ano.
Tudo isso aumenta o escrutínio já intenso sobre Jackson Hole. No mês passado, Powell descreveu o mercado de trabalho como sólido e a política monetária como bem posicionada.
Os investidores estarão atentos a qualquer mudança, mesmo que mínima, em qualquer uma das frentes — o que poderia abrir caminho para um corte dos juros na próxima reunião do Fed, em setembro. Mas, com mais dados econômicos previstos para antes disso, o chefe do Fed pode preferir manter a mensagem cuidadosamente calibrada.
Os mercados de títulos foram tentados a pensar que isso já estava garantido. Os rendimentos dos títulos do Tesouro Americano (treasuries) com vencimento em dois anos, os mais sensíveis à política do Fed, caíram este mês, à medida que operadores passaram a precificar um corte de 0,25 ponto percentual em setembro.
Despedida
Será o último discurso que Powell fará no simpósio anual antes do término do mandato como presidente do Fed em maio de 2026 – e o pano de fundo é um dos períodos mais turbulentos da história recente do Fed. Trump criticou duramente a liderança de Powell e flertou com a ideia de demiti-lo, no que parece a muitos analistas do Fed um ataque ameaçador à independência do banco central.
Além de criticar a relutância do Fed em cortar os juros este ano, Trump e aliados destacaram a incapacidade do banco central de conter o aumento da inflação que se seguiu à pandemia. Isso está relacionado a outra questão que Powell abordará em Jackson Hole: a revisão em andamento da estrutura do banco central para a definição da política monetária, que deverá se basear nas lições aprendidas durante a era da covid.
No geral, o discurso pode ter um tom de despedida.
“Há uma razão para que ex-presidentes tenham usado os últimos discursos em Jackson Hole para refletir sobre os mandatos”, disse Pingle. “É a oportunidade de eles de escreverem sua história.” (Com informações do jornal O Globo)