Segunda-feira, 06 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 1 de fevereiro de 2024
A PF (Polícia Federal) prendeu na última quarta-feira (31) dois passageiros tentando embarcar para a França, com cápsulas ingeridas contendo drogas, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
Os policiais federais identificaram dois passageiros que apresentavam indícios de que eles estariam transportando drogas. Ambos foram entrevistados e, em razão das suspeitas, conduzidos à delegacia para serem ouvidos. Durante o percurso, cientes de que seriam encaminhados ao hospital público para serem submetidos a exames, eles admitiram que haviam engolido cápsulas contendo cocaína.
Os suspeitos poderão responder pelo crime de tráfico internacional de drogas. “A ingestão de drogas representa grave risco à vida de quem se utiliza desse recurso, à exemplo de uma passageira detida no dia 24 de janeiro deste ano, em que foi necessária uma cirurgia de risco para retirada de cápsulas que ela não conseguia expelir e que, se permanecessem em seu organismo por mais tempo e fossem rompidas, a levaria a óbito”, afirma a PF.
Tática comum
No esquema de tráfico internacional de drogas, uma tática comum para tentar driblar a fiscalização dos aeroportos é o uso das chamadas “mulas”: pessoas que transportam entorpecentes dentro do próprio corpo, para entregarem o material a traficantes de outro país.
Engolir cápsulas de cocaína, por exemplo, ou colocá-las na vagina e no reto são técnicas altamente arriscadas para a saúde – podem provocar convulsões, desmaios por dor, intoxicação, rompimento de órgãos e morte.
– Quais as técnicas (de risco) para inserção da droga no corpo? Paula Carpes Victório, farmacêutica e mestre em toxicologia pela Universidade de São Paulo (USP), explica que a droga é, em geral, envolta em um material plástico – em várias cápsulas ou saquinhos pequenos. Esses invólucros são: engolidos, aos poucos, para que fiquem no estômago durante a viagem; inseridos na vagina; ou colocados no reto.
– Pode haver rompimento das cápsulas? Sim, é comum que as cápsulas estourem. Nosso estômago secreta ácido clorídrico (HCl) para digerir os alimentos que comemos. “É muito forte e deixa o pH extremamente baixo”, afirma Paula.
“Quando mascamos um chiclete, por exemplo, o organismo entende que vamos nos alimentar e libera mais ácido para a digestão. No caso das cápsulas, o mesmo acontece: o HCl é excretado e provavelmente vai corroer o plástico que envolve a droga.”
Na vagina, o pH é ácido (menos do que o do estômago). No intestino, é alcalino, mas também apresenta potencial corrosivo. O risco de rompimento da cápsula, nos dois casos, é reduzido, mas existe. E há outro alerta: “São partes do corpo que naturalmente contraímos, seja em um susto, ao andar ou ao sentar. Isso pode fazer com que os invólucros estourem e ainda levem a uma lesão. O plástico é duro; é terrível”, diz a toxicologista.
– O que acontece se a cápsula com as drogas estourar? Se o plástico que envolve a droga for rompido, uma quantidade enorme de entorpecentes vai ser liberada no organismo.
“A substância será absorvida pela mucosa [do estômago, da vagina ou do reto], que é irrigada por vasos sanguíneos. A droga entrará em contato com as células e chegará ao sistema circulatório”, afirma Paula.
Os sintomas da overdose variam de acordo com o tipo de substância. “A pessoa pode ter convulsões, hemorragia ou até morrer instantaneamente”, esclarece a especialista.
– E se a cápsula não romper? Há algum risco ainda assim? Sim. A “mula” pode ter: dores fortíssimas no estômago, causando desmaios; vômitos; sangramento por lesões nos órgãos; e cólicas que farão com que ela caia no chão no meio do aeroporto, por exemplo.
– Quais os tratamentos possíveis? Segundo a especialista, o procedimento de retirada dos pacotes/pinos vai depender do quadro do paciente. Pode envolver: lavagem hospitalar estomacal e intestinal; retirada por endoscopia; uso de carvão ativado, para controlar a chegada da droga ao sangue; remoção manual via vagina ou ânus; e cirurgia imediata, de alto risco, quando o estômago ou outro órgão já foi perfurado.
A probabilidade de o paciente morrer antes dos procedimentos ou durante esses processos é significativa. As informações são da PF e do portal de notícias G1.