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Por Redação O Sul | 29 de julho de 2023
Há cerca de oito anos, o uso de intervenções farmacológicas para a perda de peso passou por uma verdadeira revolução quando os primeiros estudos confirmaram que uma classe de medicamentos chamada de análogos de GLP-1, da qual pertence o Ozempic, consegue levar a um emagrecimento inédito – com uma eficácia que chega perto da cirurgia bariátrica.
Desde então, as canetas injetáveis, originalmente concebidas para o tratamento de diabetes tipo 2, passaram a ser reposicionadas em doses maiores para pacientes com obesidade, ou com sobrepeso junto a comorbidades relacionadas ao número que aparece na balança.
“Antes a obesidade não era vista como uma doença, então não tínhamos tantas opções de medicamentos. Só que agora, além de reconhecida, em todo o mundo nós vemos uma piora do cenário, um crescimento de casos que só tende a aumentar. Então tem um olhar maior”, explica o médico endocrinologista Fabiano Serfaty, doutor pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Mais eficaz
As eficácias foram avaliadas em conjunto com mudanças de hábitos como alimentação e atividade física. Além disso, podem variar não devido ao potencial do medicamento, mas pelo tempo em que os pacientes foram acompanhados.
Por exemplo, embora a tirzepatida tenha alcançado o maior efeito, de até 26,6% de redução do peso, ele foi observado no período de 84 semanas, o mais longo entre todos os estudos.
Serfaty destaca também que essa perda de peso pode não se sustentar a longo prazo se não houver uma mudança de hábitos e um planejamento para quando o remédio for interrompido.
“O medicamento pode ajudar, mas precisa haver essa virada de chave no estilo de vida”, afirma.
Como agem os medicamentos
No caso da semaglutida e da liraglutida, eles simulam apenas o hormônio GLP-1 no corpo humano. Existem receptores dele em diversas partes do corpo: no pâncreas, por exemplo, essa interação aumenta a produção de insulina. Por isso, inicialmente, os fármacos do tipo foram pensados para diabetes tipo 2. Além do Ozempic, destinado a esse público, existe o Victoza, que é a versão da liraglutida para pacientes diabéticos.
Já no estômago, o GLP-1 reduz a velocidade da digestão da comida e, no cérebro, ativa a sensação de saciedade. Esses mecanismos levam a pessoa a sentir menos fome e, consequentemente, reduzir as calorias ingeridas por dia.
“As moléculas possuem uma estrutura química muito parecida com o hormônio, mas com a vantagem de não precisarmos estar alimentados para que eles exerçam seus efeitos”, diz Serfaty.
A tirzepatida é uma ainda nova geração, que tem o diferencial de ser um duplo agonista, simulando não só o hormônio GLP-1 como também um outro intestinal chamado GIP. Já a retatrutida é o mais recente, sendo um triplo agonista: além do GLP-1 e do GIP, simula também o GCC.
“Os agonistas duplos e triplo são o futuro, eles são a grande novidade. Por enquanto, o Mounjaro é o que está mais perto do nosso mercado brasileiro. Mas em um futuro muito breve todas essas moléculas estarão mais disponíveis”, afirma o médico.
Riscos e efeitos colaterais
Todos os medicamentos devem ser utilizados somente mediante indicação médica e têm efeitos colaterais. Na maior parte são leves, como náuseas, diarreia, baixo nível de açúcar no sangue (hipoglicemia), vômitos, tontura, indigestão, gastrite, refluxo, constipação e perda de apetite.
Segundo Serfaty, os mais observados são os enjoos e a constipação, que podem levar parte dos pacientes a abandonarem o tratamento.